Contratos precários afectam os jovens
A percentagem de jovens portugueses com esta modalidade de contrato supera à média europeia, que é de 42%. Nos adultos, 20% dos portugueses tem contrato a prazo, quase o dobro da média europeia, que é de 11%.
O documento (clique aqui para descarregar em PDF, em inglês) “Global Employment Trends for Youth 2012” (Tendências Globais de Emprego para a Juventude 2012) da OIT sugere que a crise financeira tem vindo a transformar o trabalho a prazo numa opção cada vez mais recorrente.
De acordo com a OIT, a opção por trabalhos temporários e precários entre jovens quase duplicou desde o início da crise, com particular incidência nos países europeus mais afectados, como é o caso de Portugal, Espanha e Grécia.
“Na União Europeia constatamos que os trabalhos temporários ou os contratos a prazo são muito comuns entre os mais jovens, mais do que entre a população adulta”, refere o responsável pela Unidade de Tendências de Emprego da OIT, Ekkehard Ernst, acrescentando que os empregos em part-time entre os jovens aumentaram antes e durante a crise.
Entre o segundo trimestre de 2008 e 2011, a taxa de emprego jovem em part-time aumentou 3,6 pontos percentuais na União Europeia. Em Espanha ou na Irlanda a subida chegou aos assustadores 11,8 e 20,7 pontos percentuais, respectivamente.
“Em muitos países, incluindo Chipre, Dinamarca, Grécia, Hungria, Portugal e Eslovénia, o aumento durante o mesmo período ultrapassou os cinco pontos percentuais”, refere a OIT.
É também entre os jovens que se regista o maior aumento de recurso a trabalho temporário. No segundo trimestre de 2000, 35,2% dos jovens empregados da União Europeia tinham contrato a prazo, em comparação com 8,9 por cento dos adultos, com idade entre os 25 e os 64 anos.
“Nessa altura, os jovens tinham quatro vezes mais probabilidades do que os adultos de terem um emprego a prazo. E se entre 2000 e 2008 a fatia do trabalho temporário, no global do emprego, aumentou tanto para os jovens como para os adultos, a verdade é que o aumento entre os jovens foi quase o dobro do dos adultos”, refere o relatório.
De acordo com a OIT, em cinco países (Itália, Luxemburgo, Polónia, Portugal e Eslovénia), o aumento do trabalho temporário entre os jovens foi de dez pontos percentuais.
A organização alerta que, na situação actual, é provável que os jovens olhem cada vez mais para os trabalhos temporários como a única forma de entrar no mercado de trabalho e que compitam cada vez mais ferozmente entre si para os conseguir.
Acrescenta a OIT que, nesta situação, os empregadores também irão optar pelo trabalho temporário como forma de cortar custos na empresa, principalmente em tempos de crise económica, já que dessa forma o patronato gasta menos com segurança social ou formação.
Na opinião da OIT, um dos problemas que os jovens enfrentam é a dificuldade cada vez maior em arranjar um emprego permanente, e defende que está nas mãos dos governos encontrar soluções que criem perspectivas para os mais jovens.
Um apreciação global sobre estes dados dá-nos conta que na última década o trabalho a prazo e/ou em part-time, que na generalidade e para a grande maioria está intrinsecamente ligado à precariedade, cresceu substancialmente, aumentando as incertezas de futuros por realizar e adiando vidas que dia-a-dia lutam para sobreviver. Uma década de neoliberalismo, muitas vezes mascarado de diferentes vias e cores, que nos trouxe a crise, o empobrecimento, a falta de perspectivas e o adiamento de uma geração com repercussões nos baixos indicadores de natalidade que comprometem o futuro do país.
Vidas adiadas num país cada vez mais adiado e com mais de um quinto da população activa em situação de pobreza ou no limite de lá chegar.
Não queremos voltar às praças de jorna comandadas por capatazes de fato e gravata com montras pomposas nas nossas maiores ruas e avenidas.
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