Debate Graffiti e mural político

No passado Sábado, 26 de Março, decorreu o debate sobre Graffiti e Mural Político organizado pelos Precários Inflexíveis.

Foram discutidas as várias dimensões dos discursos que contribuem para a criminalização do graffiti e do mural político, e de como desde o 25 de Abril o povo tem progressivamente vindo a ser expropriado do direito à comunicação em espaço público. Questionou-se se hoje a internet é capaz de substituir a importância de comunicar em espaço público, ou se é apenas um meio complementar. Sugeriu-se que através do vídeo e da fotografia a internet contém em si a capacidade de dar novas existências aos murais em espaço público.

Houve quem afirmasse que os writers não reivindicam paredes legais, porque a genese do graffiti reside exactamente no facto de ser ilegal, e no prazer que é possível retirar do facto de ser uma actividade ilegal. Em contrapartida houve writers na plateia a descrever os exasperantes processos burocráticos aos quais se têm submetido para garantir a legalização de paredes.
Houve quem sublinhasse a importância das autarquias disponibilizarem espaços para propaganda política como é referido no art.º 3.º da lei nº 97/88 de 17 de Agosto. Já outras pessoas afirmaram que mais importante do que ter espaços previamente garantidos pelas autarquias, é garantir uma base de apoio alargada entre a população que legitime a pintura dos espaços.
Ainda relativamente à atribuição de espaços por parte das autarquias, ficou a questão: Se uma autarquia atribuir um espaço isso anula a possibilidade de crítica? Se por exemplo a autarquia de Lisboa atribuisse uma parede, seria possível denunciar nessa parede que a CML mantém setenta assistentes de exposição a falsos recibos verdes no Museu do Design e da Moda? A mensagem seria apagada? O espaço seria retirado?
O facto de existirem 300 mil casas devolutas em Lisboa contribui para um aumento generalizado das rendas, e empurra muitas pessoas para os concelhos adjacentes. Discutiu-se se a pintura de fachadas de prédios devolutos em pleno centro de Lisboa contribui para escamotear esta realidade e atrasar a sua reabilitação, ou se em contrapartida estas pinturas vêm justamente sinalizar o problema, e dar um contributo importante no combate à especulação imobiliária.
Ficou uma pista para um próximo debate: Discutir a dimensão estética dos murais políticos bem como a relação entre arte e política.
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