Desemprego estrutural de 11,8%: uma mentira com graves consequências

O Governo apresentou ontem um estudo sobre a evolução recente do desemprego onde esmiúça as causas que o executivo encontra para a taxa de desemprego. Sem surpresa, por conhecermos a inclinação para a ortodoxia da austeridade que este Governo tem, a taxa de desemprego de 14,9% é explicada por uma corrida aos subsídios de desemprego porque a legislação ia ser alterada para pior, pela rigidez do mercado de trabalho (sempre a mesma desculpa) e pelas restrições no crédito.

Ou seja, para o Governo as pessoas quiseram ficar desempregadas mais cedo. Esta ideia é absolutamente estapafúrdia, pois se a mudança para pior do subsídio de desemprego pode ter acelerado ligeiramente  o número de inscrições nos centro de emprego, essas pessoas só aceleraram a ida para o desemprego por saberem que naquele momento ou em poucos meses estariam desempregadas.

Mas queríamos falar essencialmente da mais importante e perigosa ideia que o Governo tenta naturalizar neste relatório e em que insistirá no futuro próximo: 11,8% de “desemprego estrutural”.

O “desemprego estrutural” é um conceito usado por uma área da economia que diz que, tendo em conta as condições económicas (tecnologia, crédito, matérias primas, etc.), o “mercado de trabalho” já está saturado de pessoas a vender o seu trabalho, ou seja, há excesso de oferta de pessoas a vender o seu trabalho. Esta premissa tem várias consequências: 

1) para que o “mercado de trabalho” aceite “comprar” mais trabalho (contratar trabalhadores) é preciso que o preço a que o trabalho é “vendido” seja reduzido, ou seja, que o salário desça; 
2) se esta taxa de desemprego é estrutural quer dizer também que é “natural”, ou seja, o Governo informa-nos que não está disponível a aplicar nenhuma medida para diminuir o desemprego estrutural, “simplesmente não há nada a fazer” – é o que responderão; 
3) Como o “desemprego é estrutural” e não há nada a fazer a culpa não é do Governo, nem este deve ser julgado por uma taxa de desemprego tão alta, na verdade, dos 14,9% de taxa de desemprego o Governo apenas se quer responsabilizar por 3,1% da taxa.

Não há outra forma de o dizer: o Governo quer fazer como Pilatos e lavar as mãos do problema do desemprego.
Não existe um problema de “desemprego estrutural”, o que existe é um regime de austeridade que ainda agora começou e que está a destruir empresas, empregos e a economia e que irá criar milhares de desempregados e precários nos próximos anos, acelerando a tendência do último ano.

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