"É preciso uma globalização das lutas contra a precariedade" – Precariedade e Desemprego: fatalidade ou projeto?

Já começou este dia de debates do Fórum organizado pelos Precários abrindo com uma intervenção da Diretora da Escola de Música do Conservatório Nacional que assinalou a importância desta iniciativa.

Seguidamente iniciou a Mesa Redonda – Precariedade e Desemprego: fatalidade ou projeto?

IMG_2152Ricardo Antunes, sociólogo e professor universitário do Brasil, na sua intervenção gravada deu enfase à necessidade de uma globalização das lutas sociais que possa responder à globalização do capital e que estas lutas devem reunir todas as pessoas que sofrem na pele em todo o mundo com a precariedade e o desemprego e não permitindo a divisão das pessoas que trabalham.

Já Sandra Monteiro, jornalista, abriu a sua intervenção explicando que o desemprego e a precariedade são estruturais a um projeto neoliberal e não uma fatalidade desse projecto. Para a jornalista, o carácter pretensamente a-histórico do projeto neoliberal afunila o campo dos possíveis e por isso é anti-democrático porque nega a política no campo das escolhas e precisa da desestruturação do trabalho para o fazer. Assim, na sua opinião, é preciso colocar ainda uma questão: o desemprego e a precariedade são os eixos que atacam a sustentabilidade do Estado Social e a sua defesa implica atacar estes problemas.

Ilona Kóvacs – socióloga e professora universitária – abordou o problema do discurso dominante, o discurso oficial que ouvimos todos os dias e que nos diz que o problema do desemprego é um problema individual e logo responsabilidade do problema. Já a precariedade no discurso dominante não existe, na visão da socióloga – visto que é substituida por palavras como “novas formas de trabalho” ou “colaborador”. A socióloga indicou que a flexibilização do trabalho é a base da empresa que se diz “ideal”, pós burocrática, e que só têm trabalhadores do núcleo central da empresa. Supostamente isto seria mais democrático por ser em rede, mas na verdade os trabalhadores de outsourcing sofrem ainda mais e recebem ainda menos. É preciso então uma defesa do fator trabalho até porque há um sub-aproveitamento da formação porque segmentos crescentes da população, até mais jovem, são empurrados para fora da economia.

Mário Nogueira da FENPROF considera que o projeto de aumento da precariedade e do desemprego vem de longe e que não vale a pena o atual governo escudar-se na troika, pois o projeto é seu. Depois o sindicalista descreveu o processo de precarização e de desemprego maciço que os professores sofreram. Primeiro foram precarizados nas AEC’s e nos contratos anuais e depois despedidos pelo Ministro Crato. Nos professores houve 3 estágios deste processo: primeiro estabilidade foi transformada em precariedade e depois a precariedade em desemprego e agora desemprego em expulsão da profissão e do país.

Marco Marques, da Ass. de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, explicou o que motivou a criação de uma associação de e para precários. “Cedo percebemos que a precariedade e o desemprego era um projeto para todas as pessoas” e sendo um projeto era necessário criar um espaço de resistência e um ponto de encontro das pessoas que estavam a ser afetadas. Marco Marques lançou então questões que considera as mais importantes para o momento atual: como se pode fazer a organização de pessoas que estão tão atomizadas nas relações laborais e que estão sujeitas a um discurso público que enaltece o individualismo?

José Soeiro, sociólogo, explorou as alterações na organização do trabalho e como essas alterações estão a fazer a diferença nas maneiras como se tem organizado a luta social. O futuro fechado que os jovens sentem tem reflexo sobre a intervenção social que é possível, é necessário – na opinião do sociólogo – abrir o futuro como uma referência de esperança. Mas isso só poderá ser realizado se houver espaços em que quem é afetado pelo desemprego e pela precariedade se pode encontrar para trocar ideias, visto que hoje já é difícil fazer esse encontro e partilha dentro das empresas, até pela tão alta rotação de trabalhadores que muitas realizam.

O debate com o público trouxe testemunhos e ideias novas que abrem perspetivas de intervenção.

Muitas perguntas ficaram em aberto nesta mesa, mas algo ficou claro: a precariedade e desemprego não são uma fatalidade, mas sim um projeto que está a ganhar terreno. Para vencer a precariedade e o desemprego é sempre preciso enfrentar esse projeto e criar pontes entre as pessoas que estão a ser deixadas para trás ou que são obrigadas a emigrar, sem se permitir que as pessoas que trabalham sejam postas umas contra as outras. Neste momento em que o regime da austeridade acelera este projeto, é necessário acelerar ainda mais a capacidade de ação, de convergência entre lutas e de organização ao nível nacional, mas também internacional.

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