Estivadores no olho do furacão – Entrevista com António Mariano (parte 3)

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Na terceira e última parte da entrevista ao presidente do Sindicato dos Estivadores do Centro e Sul abordámos com António Mariano a forte articulação a nível internacional conseguida pelos estivadores, que dá importantes lições de como estabelecer redes e laços de apoio e solidariedade, e o exemplo claro do fortíssimo ataque feito pela Associação Comercial de Lisboa, representando os interesses comerciais e patronais dos exportadores e operadores. No olho do furacão da crise, a luta dos estivadores ainda terá muito pela frente, mas é um exemplo claro das contradições da troika e da austeridade, e da tenacidade que pode existir da parte de quem luta pelos direitos sociais contra a precariedade e o desemprego. Ver resto entrevista: 1ª parte e 2ª parte.

PI: Há fortes movimentações a nível internacional no que diz respeito a estivadores. E não apenas na Europa, com a nova Lei dos Portos a levar a paralisações históricas no Brasil, como no porto de Santos. Parece-lhe que a nível internacional prepara-se uma reconfiguração a nível das trocas comerciais? Como estão a reagir os estivadores a nível internacional?

AM: A abertura ou ampliação de canais de passagem entre os oceanos para criar alternativas à ligação marítima entre os oceanos juntamente com o aumento brutal de capacidade dos navios porta-contentores em construção vai alterar os fluxos de cargas entre os diversos continentes. A localização geográfica de Portugal e as características das suas costas e dos seus estuários, se não forem desperdiçados, poderão vir a ser um factor importante para o desenvolvimento económico do país e para a criação de emprego. Este poderia ser o lado positivo desta questão.

Manifestação no ano passado em Lisboa com forte presença de estivadores de outros países
Manifestação no ano passado em Lisboa com forte presença de estivadores de outros países

Do outro lado temos as políticas neoliberais a avançarem concertadas pelos vários continentes tentando implementar políticas de desemprego massivo, emprego precário, escravo em muitos pontos do globo e tendencialmente mal pago. E os estivadores estão no ponto mais estratégico desta cadeia de produção e transporte globalizado, motivo porque um pouco por todo o mundo estão a sofrer ataques brutais. Só para falar dos mais recentes temos os conflitos no Pireu, em Hong Kong, em Antuérpia, em Tilbury e London Gateway, em Portland, no Brasil a começar pelo porto de Santos ou, mais em geral, por toda a América do Sul e, esquecendo muitos outros, por todo o Portugal.

Os estivadores organizados estão a responder a estes ataques por todo o mundo, estão bem conscientes desta globalização neoliberal e da similitude dos ataques ou, pelo menos, dos seus objectivos, e estão organizados em dois sindicatos mundiais, preparados para responder energicamente aos constantes ataques aos estivadores, concertados entre poderes económicos e financeiros globais e governos locais coniventes, sequestrados mas dóceis.

PI: A 8 de Julho o presidente da Associação Comercial de Lisboa, Bruno Bobone a 8 de Julho atacou com violência os estivadores e as suas organizações de classe, quando disse que o que era necessário era a liberalização total e que o Governo tinha que acabar com os senhores (vocês), que “têm que desaparecer, têm que acabar com eles 

AM: Não costumo responder a boboseiras, mas dada a gravidade da ameaça que constitui a apologia da exterminação do colectivo que represento apenas gostaria de afirmar que os estivadores tudo farão para que esse tipo de senhores feudais desapareça o quanto antes do negócio portuário, em nome de uma melhor qualidade de vida para os portugueses e de uma sociedade mais justa, equilibrada e livre de parasitas.

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