European Science Foundation ameaça judicialmente investigadora espanhola que criticou o processo de avaliação das unidades de investigação portuguesas
A astrofísica espanhola Amaya Moro-Martin que criticou o processo conduzido pela European Science Foundation (ESF) num artigo de opinião, recentemente publicado na revista Nature, foi intimada pela ESF a retirar a frase onde critica o processo de avaliação das unidades de investigação portuguesas, sob pena de uma ação legal. Ou seja, a ESF, qual instituição inquisidora, julga-se acima da crítica e ameaça elementares direitos de opinião e expressão. Repudiamos a ação da ESF, exigimos que a FCT retrate a sua relação com a ESF e afirmamos solidariedade com Amaya. A coragem é a maior virtude da ciência.
O que aconteceu:
A avaliação das unidades de investigação portuguesas foi encomendada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) à European Science Foundation (ESF). Este processo mereceu já duras críticas e acusações por parte da comunidade científica e uma ação em tribunal por parte do SNESup, o Sindicato Nacional do Ensino Superior. Vários centros de investigação foram condenados à morte súbita, outros à morte lenta, e não sabemos ainda como este processo liquidatário irá terminar. Em causa está a sobrevivência do sistema científico português.
Entretanto, a comunidade científica internacional também vai fazendo a avaliação da ESF e da política de ciência europeia – ver open letter. A astrofísica espanhola Amaya Moro-Martin, que é investigadora no Space Telescope Science Institute e na John Hopkins University, nos Estados Unidos, publicou a 9 de outubro, na revista Nature, um artigo de opinião sobre o futuro preocupante da ciência na Europa. Ali afirmou que, no caso de Portugal, «poderão ser fechadas metade das suas unidades de investigação devido a erros no processo de avaliação por parte da European Science Foundation». Em resposta, o presidente da ESF, Jean-Claude Worms, enviou-lhe uma carta, intimando-a a retirar a frase, sob pena de uma ação legal.
Como refere o investigador José Vítor Malheiros, no Público, «a ação da European Science Foundation é uma ação de censura, que tenta limitar a liberdade de expressão e é, por isso, inaceitável em termos éticos e políticos. Trata-se de um gesto autoritário e anti-democrático que nenhuma sociedade pode tolerar. Não admira por isso que, nos últimos dias, se tenham multiplicado as tomadas de posição na Internet com investigadores a declarar que deixarão de prestar qualquer colaboração à ESF».
Já o investigador Carlos Fiolhais considera que a ESF ensandeceu. Subscrevemos as suas perguntas:
«O ministro Nuno Crato, que, a avaliar pelo que dizia e escrevia antes, sabe que a crítica é fundamental na ciência, não terá nada para dizer? O que acha dos métodos de perseguição da ESF? Admito que possa ter sido enganado pela FCT. Mas de que é que ele está agora à espera para denunciar o contrato da FCT com a ESF? O que é que ele está a aguardar para afastar o Presidente da FCT, que, na hipótese mais bondosa para o ministro, terá congeminado o acordo com esta ameaçadora ESF sem a tutela saber?»
E acrescentamos: Sr. Ministro Nuno Crato, quanto mais precisa de errar para se demitir?
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V. Exas. ainda têm um Ministério para poder se indignar, o que não acontece à maior parte dos cidadãos. Talvez por isso é que continuadamente são sempre os mesmos em manifestos.