Jovem desemprecária no Público de hoje

Mais um testemunho na imprensa, desta vez na página 5 do jornal Público de hoje. A reportagem fala em “15 anos de políticas falhadas” para os “portugueses esquecidos” de que falou Cavaco Silva na “mensagem de ano novo”: agricultores, pequenos comerciantes e jovens sem emprego.

Excluída por ter uma licenciatura
Carla Vinagre, 21 anos, licenciada no desemprego
Clara Viana

Foi por ter uma licenciatura, concluída no Verão passado, que Carla Vinagre se viu automaticamente excluída” até da mera possibilidade de vir a ser candidata a um lugar na Câmara Municipal de Lisboa (CML). Confirmada em Outubro, quando concluiu um estágio curricular de três meses na Divisão de Programação Cultural da CML, esta experiência definidora só lhe custou mais porque tudo o resto – ou seja, o trabalho que lá fez – tinha corrido “muito bem”: “Aprendi bastante.”

Mas em situação de estrangulamento financeiro e apesar da falta de qualificação do seu pessoal ser um dos problemas identificados (o grupo mais numeroso tem a antiga quarta classe), na CML terá passado a ser apresentada como “expressamente proibida” a contratação de licenciados. Foi o que lhe disseram, dando-lhe conta de que isto tem a ver com patamares de vencimentos. E na administração local as habilitações contam para este efeito.

Na sua mensagem de Ano Novo, o Presidente da República referiu-se a pessoas como Carla: os jovens que, “tendo terminado os seus estudos, vivem a angústia de não conseguirem emprego”. Foi um dos três grupos que escolheu para ilustrar os tempos difíceis que o país atravessa. Segundo dados do INE, no final do ano passado, entre os desempregados, cerca de 69 mil estavam à procura de primeiro emprego. Em quase duas décadas, este número só foi ultrapassado em 1995, o último de dez anos de Cavaco como primeiro-ministro, e nos dois seguintes, que foram os primeiros do Governo de António Guterres.

Carla Vinagre ouviu o discurso de Cavaco e subscreve a escolha feita: “Faz sentido incluir-nos, e é um sinal de que o grupo está identificado e de que é preciso tomar medidas.” Mas pensa que o Presidente poderia ter ido mais além: “Limitou-se a constatar um facto. Teria sido mais importante que tivesse apelado directamente às empresas e Governo para que mudassem, por exemplo, as políticas de contratação.”

No final do ano passado, ainda segundo dados do INE, entre os desempregados, cerca de 69 mil tinham um curso superior concluído. Há dez anos eram à volta de 15 mil. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, Carla Vinagre, que vive em casa dos pais, prepara-se agora para fazer o que têm feito muitos outros diplomados à procura de emprego: iniciar um mestrado. Entretanto está a responder a anúncios, a enviar currículos, a ir entrevistas – já conta com uma dúzia. Não tem respostas, mas está optimista. Tem 21 anos.

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