Jovens na boca do Governo (vão sendo engolid@s pelos patrões)

O Governo não desarma. Sabe bem que o ataque aos trabalhadores e às trabalhadoras faz mossa generalizada. E sabe também que @s jovens são hoje particularmente afectad@s. Desemprego, precariedade e salários baixos são ameaça para toda a gente, mas os números não mentem: em Portugal ser jovem é não ter dinheiro para sair de casa dos pais (que, por enquanto, lá vão aguentando a coisa e substituindo a Providência Estatal e outras regras definidas por escolhas políticas corajosas), é ter pouco e mau emprego, é trabalhar muito e ganhar muito pouco. É claro que nada disto tem a ver com um ódio especial dos patrões relativamente a esta ou aquela faixa etária: esta é a nova realidade do mundo laboral, vendida às pazadas como inevitabilidade – quem procura trabalho hoje (sobretudo jovens, necesariamente), encontra quase sempre esta mão cheia de nada. Uma chantagem generalizada, apoiada na ameaça do desemprego e nas crescentes dificuldades que vamos sentindo todos os dias.
É assim que se deve compreender esta notícia recente (Jornal de Notícias, 09/08/2008):

Mais emprego para os jovens

O ministro do Trabalho, Vieira da Silva, assinalou esta sexta-feira, em Guimarães, o arranque de uma nova fase de alargamento do programa INOV-Jovem, que visa facilitar a inserção de jovens qualificados nas PME. (…)”

Uma linha de comunicação escolhida abilmente há muito tempo. E muito mal disfarçada, como se provou no momento da revisão do Código do Trabalho (sobre a qual o PI não deixou de reflectir e intervir): o Governo escolheu sempre as frases sonoras em detrimento da famosa “coragem”, que insiste em ter apenas quando se trata de tirar a quem tem menos. Exemplos? “Recibos verdes vão sair mais caros às empresas”, “licenças parentais vão ser alargadas” ou “os contratos a termo passam a ter novo limite de 3 anos” – soundbytes, apenas isso, como os próprios patrões não deixam de reconhecer (aqui, por exemplo). A verdade é que continuará a ser muito mais barato para os patrões solicitar os “serviços” de trabalhadores/as a recibos verdes do que fazer um contrato, como devia ser. A verdade é que é preciso ser rico – ou ter pais ricos, porque ir aquele banco do anúncio também não dará resultado – para beneficiar do alargamento da licença parental. A verdade é que o ministro Vieira da Silva foi – ele próprio! – responsável, há apenas meia dúzia de anos, por uma proposta governativa que apontava para 1 ano de limite máximo para os contratos a termo; agora não é preciso coragem nenhuma para propor um limite de 3 anos, sobretudo quando as Empresas de Trabalho Temporário, devidamente enquadradas pelo sr. Provedor, tratam de eternizar contratos precários e fazer o trabalho sujo (para o qual vêm sendo devidamente compensadas, diga-se).
Voltando à notícia e ao tal INOV-Jovem, apetece dizer que quem fica a ganhar são sobretudo as empresas:

“(…) As empresas que recebem jovens licenciados ao abrigo deste programa têm direito a vários incentivos do Estado, nomeadamente, “o pagamento de uma parte do salário, que vai até 60%, com limite de dois salários mínimos nacionais, e ajudas de deslocação e para que haja um tutor responsável pela integração desse jovem dentro da empresa”, revelou Francisco Madelino, presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). (…)”

Estágios? Estágios, pois claro. Claro que sim. Integração nos quadros das empresas? Óptimo (mas sabemos que não é assim, não é?). Horários? @s trabalhadores têm que se esforçar e acompanhar as dificuldades das empresas (sobretudo se forem estagiári@s, obviamente). Funções? Todas, claro. Salário? O “possível”, que não dá para viver, como se sabe.
Sim, queremos estragar a festa da propaganda. Sabemos como é importante – embora, talvez, mais difícil – questionar as medidas (aparentemente) “simpáticas”. Aceitamos o risco, porque sabemos que há um maior: deixar esta linha de comunicação do Governo fazer o seu caminho, por entre silêncios que temem a censura da incompreensão. Não estamos cá para coisas fáceis, senão não encontravamos energia para este combate cheio de dificuldades. Mas temos a confiança de quem não aceita passar uma vida inteira a viver aos bocados. Somos muit@s, não somos?

Tiago Gillot

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