O desemprego cresce, o discurso é o mesmo
Ontem, o INE divulgou os dados do 4º trimestre de 2009 relativos ao mercado de trabalho. O desemprego atinge o máximo histórico com 10.1% (563.3 mil pessoas), 9.5% entre homens e 10.7% entre mulheres. A Região Norte foi a mais afectada, com 11%, seguida do Alentejo (10.5%) e do Algarve (10.3%). 22.2% dos jovens estão desempregados. No mesmo período foram contabilizados cerca de 700 mil trabalhadores com vínculo de trabalho a “termo certo” (contrato a prazo) e 1,2 milhões de trabalhadores por conta própria, dos quais 900 mil correspondem aos falsos recibos verdes. Assim, no jogo da exploração, estão em campo 1,9 milhões de precários e no banco de suplentes, muito mais de 500 mil pessoas se contabilizarmos todos os desempregados que não estão inscritos no centro de emprego. Num país com uma população activa de 5.5 milhões, metade da população entra neste jogo.
FONTE: INE (3º trimestre)
Após o lançamento destes dados, pelo INE, os jornais multiplicaram-se em notícias que percorreram o país (ex: aqui, aqui e aqui). Como de costume, o (não) crescimento do PIB e a falta de competitividade foram as principais razões apontes como origem do crescimento do desemprego, segundo diversos “especialistas”.
Mas quanto valerá o PIB, como indicador? Será que este tem de crescer indefinidamente? E a proclamada competitividade… o que é uma empresa competitiva?
Percebo pouco de economia, mas sei que o PIB é função da produção e que, por sua vez, esta depende do trabalho. Ora, será que o pessoal anda a trabalhar pouco em Portugal? Não me parece. Quanto ao crescimento do PIB, em Portugal como no mundo, para este crescer continuamente o consumo terá de o acompanhar, parece-me que não quero que isto cresça… E a competitividade? Bem, andam por aí uns senhores economistas a proclamar que o aumento da competitividade é a resolução, mas apontam como principal medida de fomento, a redução dos salários e a disseminação da precariedade (ex: aqui, aqui, aqui, …), o que me leva a crer que se esta fosse a solução, Portugal, para além de ser um dos países mais competitivos da Europa, seria também um dos mais justos. Parece-me que os “avestruzes” que proclamam este discurso, só podem estar interessados em manter tudo como está.
Ricardo Vicente






