O "hábito ínvio de amor" dos professores precários (nas palavras do presidente do Instituto Politécnico do Porto)





Os portugueses sujeitam-se a situações laborais precárias porque têm um “amor ínvio” pelo seu trabalho.

Pelo menos é o que diz o presidente do Instituto Politécnico do Porto, Vítor Santos, em entrevista ao “Jornal de Negócios”:

(…)

““Docentes de qualidade fazem instituições de excelência numa situação de contrariedade contratual”

Com os consórcios a colocarem-se no horizonte como uma opção firme, e quando se fala muito na racionalização de recursos, há uma questão incontornável: vai haver dispensa de docentes? O presidente do IPP diz que não e, confrontado com a precariedade das actuais carreiras docentes do ensino politécnico, defende que é “o amor dos docentes” que tem feito “grandes instituições”.

(…)

Dados do SNESup dão nota do facto de três em cada quatro (7.500 em 10.000) professores do politécnico terem vínculos muito precários, bem mais do que no ensino universitário. Porque há tanta precariedade nos vínculos do politécnico?

Primeiro: não são só os sindicatos que o dizem – os presidentes dos politécnicos também o dizem. E disseram-no directamente ao primeiro-ministro no início do ano. O ministro da tutela também reconhece que o nível de contratos precários no subsistema politécnico é muito superior ao subsistema universitário. Isso acontece por uma tradição de quadros muitos escassos para o sistema politécnico, que levou a que o grande suporte da formação no subsector politécnico estivesse entregue a docentes que não eram dos quadros, mas equiparados e com contratos precários, renovados de dois em dois anos.

E como é que isso afecta a qualidade?

O Politécnico do Porto teve uma avaliação internacional muito boa e tem centros de investigação reconhecidos. Por conseguinte, não é pelo facto de o Politécnico do Porto, à semelhança de outros institutos, ter níveis muito elevados de precariedade no emprego que a qualidade sai diminuída.

Mas não era de esperar níveis de precariedade bem mais baixos do que estes?

Os portugueses são pessoas cheias de amor, o que é mau para estas coisas. O que é facto é que colegas de grande qualidade fazem instituições de excelência no ensino superior numa situação perversa de contrariedade contratual, por força de uma política de desenvolvimento de quadros que não foi desenvolvida. Vou dar um exemplo: antes de ser presidente do Politécnico do Porto, estava à frente do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). O ISEP tem [hoje] o quadro que tinha há 20 anos. Entrei para a gestão do ISEP em 91 e a escola tinha dois mil alunos e quando saí de lá tinha seis mil. Por conseguinte, foi à base de contratação precária que suportámos este brutal aumento da dimensão da escola, que é uma instituição prestigiada.

Não era de esperar que as pessoas fossem compensadas por terem contribuído para esse prestígio?

Era de esperar e por isso é que digo que os portugueses têm um hábito ínvio de amor que os faz estar nessas situações.

Mas a culpa é dos professores, por se disporem a estar nessas situações?

Não é uma questão de culpa. A culpa é obviamente de quem traça políticas que levam a essa situação.

E quem traçou essas políticas?

Os sucessivos governos. Mas tenho a esperança que isso seja resolvido. Temos a palavra do senhor primeiro-ministro de que esta situação será alterada.”

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via blog “Campus” do “Jornal de Negócios”

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