O Ministro Miguel Relvas afirmou esta terça-feira que "Há oportunidades raras e demasiados instalados a travar todas as ambições"

miguel-relvas-0082Assim parece que nas suas aulas pouco aprendeu sobre História, particularmente tudo o que veio depois da Revolução Francesa na transição para a Modernidade e as causas da revolta. Nesse período 1% da população, o Primeiro e Segundo Estado, ou seja, o Clero e a Nobreza, que incluía também a Togada, ou seja, os altos funcionários burgueses que adquiriam os seus cargos transmissíveis aos herdeiros.

Esses dois grupos oprimiam e exploravam o Terceiro Estado, constituído por pequenos burgueses (feirantes e negociantes), camponeses sem terra e os “sans-culottes”, uma grande camada heterogénea de artesãos, aprendizes e proletários. Os impostos e contribuições para o Estado incidiam sobre estes uma vez que estes não só tinham isenção tributária como se financiavam e usufruíam do tesouro real através de pensões e cargos públicos.

A situação do povo agudizou-se tanto que a 14 de Julho de 1789 os revolucionários tomam a Bastilha e libertam os prisioneiros políticos, aqueles que resistiam e pensavam de forma livre mediante o o absolutismo de Luís XVI e seus correlegionários.

Numa altura em que a dívida pública – resta saber se legítima – serviu para alimentar os privilégios de alguma burguesia instalada nos cargos públicos e as rendas e subvenções às grandes empresas (PPPs, contrapartidas às empresas do sector energético, etc…) cujas participações acionistas estão na mão dos bancos, aqueles que também os trabalhadores têm vindo a financiar à custa dos cortes sociais dos últimos governos e dos empréstimos da Troika que pagamos a juros elevadíssimos, o Ministro Miguel Relvas tem o dislate de afirmar que a culpa do Desemprego Jovem estar nos 40% é dos próprios jovens. Foi certamente essa massa trabalhadora, que todos os dias acorda para pagar as contas do supermercado, e que um dia sonhou poder dar aos seus filhos um mínimo de condições para que não regressassem à vida pobre dos seus avós a culpada dos devaneios da má gestão de dinheiros públicos.

O Ministro Relvas saberá certamente, ou pelo menos deveria saber, que a culpa da actual crise não é dos trabalhadores e afirmar tais dislates é no mínimo não ser honesto intelectualmente. As oportunidades são raras porque os Bancos e a Finança compraram dívidas que não se materializaram e através da força que mantém nos grandes grupos económicos provocaram um dumping social tão gravoso que essa massa de trabalhadores jovens, os tais 40%, não conseguem obter um emprego com direitos, não só devido à estagnação económica provocada pela falta de recursos resultantes dos cortes salariais da austeridade mas também pela política de baixos salários e da subcontratação sucessiva através de empresas em regime de outsourcing, trabalho temporário, etc… a falta de oportunidades deve-se sobretudo à política de baixos salários, pois sabemos que por cada emprego perdido a consequência é uma perspectiva muito pior do que a anterior. Mas isso não se deve aos trabalhadores que segundo Relvas diz estarem instalados, deve-se sim ao falhanço de políticas de valorização do trabalho, à especulação e à ganância dos Bancos através dos grupos económicos transferirem riqueza dos trabalhadores para o ‘Primeiro Estado’.

O Ministro afirma “Primeiro porque as leis laborais beneficiavam quem tinha contrato, agora por causa do endividamento e das restrições de crédito”, esquecendo-se que não foram de facto essas leis que permitiram o grande desenvolvimento económico depois do 25 de Abril. Sem elas os cada vez menos trabalhadores ‘instalados’, como erradamente sugere Relvas não, não tinham até agora servido de tampão social à precariedade dos seus filhos e muito provavelmente já estes e os seus pais tinham tomado a ‘Bastilha’.

Este discurso não só é demagogo como pode ser inflamatório do ponto de vista social ao tentar colocar trabalhadores contra trabalhadores. Os trabalhadores não foram culpados pela corrupção nas instituições financeiras, nem abriram buracos na dívida pública! Foram e continuam a ser os credores dos resgates à Banca (BPN, BPP e outros que tais…).

Sugerimos que continue a não dormir enquanto não consiga ler a história desde o inicio ( talvez dos tempos ).

Grândola Vila Morena! O Povo é quem mais ordena!

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