OCDE: Os 10% mais ricos têm 900% do rendimento dos 10% mais pobres

Segundo o estudo da OCDE intitulado “Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising” Portugal atingiu o nível de desigualdade mais elevado dos últimos 30 anos, mantendo-se um dos países mais desiguais do designado mundo das economias desenvolvidas. No nosso país os 20% mais ricos têm rendimentos seis vezes (6,1) superiores aos dos 20% mais pobres, ou seja, 610% dos rendimentos dos pobres, isto num quadro político e social já grotesco onde a média da desigualdade na OCDE é de 550%. 
Se a análise incidir apenas sobre os 10% mais ricos constata-se que o rendimento destes é 900% do rendimento dos 10% mais pobres, em média, na OCDE. O relatório destaca ainda que países com fortes desigualdades, como os EUA e Israel, vêem acentuado o fosso entre pobres e ricos e de o mesmo fenómeno ter atingido países tradicionalmente mais igualitários, como a Alemanha, a Dinamarca e a Suécia. Por cada 300 euros conseguidos pelos pobres, os ricos conseguem 1800 euros. Com o passar dos anos, esta desigualdade torna-se abissal. A austeridade confirma-se assim como instrumento de concentração da riqueza, e não de estruturação da economia para os cidadãos.
Os números contrariam o discurso político optimista que caracteriza o actual Governo: Portugal apresenta o terceiro maior índice de desigualdade na distribuição do rendimento entre os 30 países desta organização, a par com os Estados Unidos e apenas atrás do México e da Turquia. 
Apenas como nota, recorde-se que a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários – CMVM – revelou recentemente que as remunerações dos conselhos de administração das vinte empresas portuguesas cotadas em Bolsa triplicaram entre 2000 e 2005. Paralelamente, os gestores das empresas portuguesas ganham, em média, cerca de trinta vezes mais do que os trabalhadores das empresas que administram. 
Esta discrepância aliada a uma máquina tributária que alberga injustiças sociais taxando de forma diferenciada empresas, principalmente no sector bancário e financeiro, contribui significativamente para o agravamento desta situação cada vez mais geradora de pobreza, uma vez que deixa escapar uma parte significativa de contribuições importantes para sectores e políticas de inclusão social. 
Os autores do estudo terminam dizendo que “o caminho da desigualdade não é algo de inevitável”. Pelo contrário: “os governos podem contribuir para diminuir o fosso entre ricos e pobres com a aplicação de políticas sociais efectivas, muitas das quais não necessitam de maiores gastos”.

E quem são alguns dos 10% mais ricos de Portugal, os privilegiados da crise?

Américo Ferreira de Amorim
Principais activos: Grupo Américo Amorim, Galp Energia, Banco Popular, Corticeira Amorim, Banco Internacional de Crédito, Cimangola.

Belmiro de Azevedo
Principais activos: Efanor Investimentos (100%), Sonae SGPS (52,94%), Sonae Indústria (51,27%), Sonae Capital (55,96%) e Sonaecom.

Família José Manuel de Mello
Principais activos: Grupo José de Mello EDP (4,9%), Brisa (29,9%), Grupo CUF (100%), Mello Saúde (70%), Efacec (50%).

Joe Berardo
Principais activos: Metalgest, Bacalhoa Vinhos, Sogrape, Caves Aliança, EMT, Sodim sgps, Quinta do Carmo, participações financeiras, Colecção Berardo. Na avaliação não se contabilizaram as participações da Fundação Berardo.

João Pereira Coutinho
Principais activos: Grupo SGC, SAG, SGC Telecom, participações financeiras.

Luís Augusto da Silva e Maria Perpétua Bordallo da Silva
Principais activos: Cinveste SGPS, participações financeiras, imobiliárias e arte.

Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva
Principais activos: Grupo Espírito Santo, Grupo Santogal, imobiliário.

Família Mello
Principais activos: Nutrinveste, BCP, Chai SGPS. Os filhos de Jorge de Mello já não têm todos os negócios em comum.

Elíseo Alexandre Soares dos Santos
Principais activos: Sociedade Francisco Manuel dos Santos (40%), Grupo Jerónimo Martins.

Horácio da Silva Roque
Principais activos: Grupo Rentipar, Grupo Banif, Açoreana Seguros, Finpro, EMT-Savoy, imobiliário.

Álvaro Pinho da Costa Leite
Principais activos: Grupo VIC, Grupo Finibanco. Este grupo empresarial está num processo sucessório com a passagem da gestão e dos activos para os filhos Humberto, Arlindo e Maria Gabriela.

Família Matos Gil
Principais activos: Imatosgil, Grupo Espírito santo, La Seda Barcelona, Ibersuizas, Telefónica, participações financeiras, imobiliário.

João Nuno Macedo Silva
Principais activos: Grupo RAR (90%), Colep-CC, RAR, Vitacress, Geotur_Star Viagens, Wight Salads.

Dionísio Pestana
Principais activos: Grupo Pestana, ITI, Pousadas de Portugal (40%), Empresa de Cervejas da Madeira e Euroatlantic.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro e Alice Gonçalves Nabeiro
Principais activos: Nabeirogest, Delta Cafés, Adega Mayor, Cafés Ginga (Angola).

Ilídio Pinho
Principais activos: IP Holding, Fomentinvest SGPS, participações financeiras e imobiliário.

Humberto Pedrosa
Principais activos: Grupo Barraqueiro (68,5%), Fertagus (90%), Metro Sul do Tejo (34%).

Manuel Roseta Fino
Principais activos: Manuel Fino SGPS, Investifino, Grupo Soares da Costa, Cimpor, BCP.

Manuel Champalimaud
Principais activos: Gestmin, Sogestão, Silos de Leixões, REN (5%), ONI (33%), imobiliário e turismo.

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