Opinião: Os Direitos das Crianças

Hoje é Dia Mundial da Criança. Um dia para relembrar a necessidade de protecção dos direitos básicos dos mais pequenos que, em Portugal, é assinalado a 1 de Junho. Este ano, mais do que em qualquer outro, esses direitos são ensombrados pela política (des)educativa do actual Governo e pelas últimas declarações do ministro Nuno Crato, que tutela a Educação.
Foi em 1959 que as Nações Unidas proclamaram a primeira Declaração dos Direitos da Criança, numa necessidade de proteger as crianças e chamar a atenção a pais e autoridades para princípios básicos de desenvolvimento saudável em sociedade. Em 1989, a declaração é alargada a 54 artigos na Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada por todos os Estados-membros das Nações Unidas. Portugal incluído. É lei.
Como representante máximo do Ministério da Educação e Ciência, Nuno Crato deveria assegurar os princípios estipulados na Convenção em vez de apostar numa política de desprotecção social, que visa, agora, de forma chocante, também as crianças.

A propósito da discussão do novo diploma sobre os deveres (e direitos?) dos alunos – já enviado para discussão na Assembleia da República –, com a inspirada designação de Estatuto do Aluno e Ética Escolar, o ministro anuncia que, em vez de planos individuais de trabalho para os estudantes que têm demasiadas faltas, as crianças e jovens nessa situação devem fazer trabalho a favor da comunidade. O secretário de Estado do Ensino e da Administração Educativa, João Casanova de Almeida, vai ainda mais longe e, em palavras clarividentes sobre a responsabilização dos encarregados de educação pela falta de assiduidade, fala de promoção de uma “forte censura social”.

Uma ideia fortemente apoiada por um comunicado do Ministério da Educação e Ciência, onde se explica que esses pais e filhos serão castigados com “a redução de apoios sociais à família ou a contra-ordenações” e que, “no caso de se tratar de pais ou encarregados de educação de alunos apoiados pela Acção Social Escolar, a contra-ordenação é substituída pela privação do direito a apoio relativamente a manuais escolares“.
Nuno Crato tem provado o seu desinvestimento em relação à educação, quer a nível básico e secundário, quer ao nível superior. Sucedem-se notícias que nos dão conta da verdadeira decadência das políticas educativas, muitas delas persecutórias para os mais carenciados. Aumenta de forma chocante o número de alunos que se viram obrigados a desistir do ensino superior por falta de apoio social, há bolseiros de investigação científica em sérias dificuldades económicas e o aumento de até 30 alunos por turma, já no próximo ano, que diminuirá drasticamente o tempo e atenção do professor para cada aluno, cortando na raiz a percentagem de sucesso escolar, que já não é famosa (e deixando mais uns milhares de professores no desemprego). Mas nunca se pensou que pudesse descer tão baixo.
Mariana Mata
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