Opinião: Responsabilidade

O Público noticia hoje que as empresas vão travar aumentos salariais, congelar contratações, anunciar despedimentos e todas aquelas medidas rigorosas, de responsabilidade, pragmatismo e modernidade da gestão a que têm habituado os trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo.

Sabe-se, porque os governos, patrões e gestores não se cansam de o repetir, que a baixa produtividade das empresas, as fracas e rígidas economias, têm como responsáveis os duros, corporativos e privilegiados trabalhadores e trabalhadoras. Os tais que têm acesso a uma segurança-social demasiado generosa.

O que é facto é que ninguém responsabiliza os trabalhadores pelos 3.1 milhões de milionários europeus. No ano de 2007 200.000 novos agregados entraram no grupo dos milinorários, ou seja, num ano de crise imensa, parece que houve quem acumulasse, e não pouco. Foi um aumento de 3.7%, de 2006 para 2007.

O aumento da riqueza desses agregados foi ainda maior, ou seja, nos anos de crise, pelos vistos, as oportunidades de acumulação de riqueza aumentam grandemente. De 2001 até 2007 a acumulação de riqueza nesses agregados subiu 20%, de um total de 8.4 trilliões de US$ em 2001 para 10.6 trilioes de US$ em 2007. Ou seja, quanto maior o poder económico, mais acumula.

Por cá, também temos os nossos predadores de todos os dias, que não enjeitam oportunidades como estas para acumular ainda mais às custas de quem já têm uma vida complicada. Américo Amorim (apadrinhado por Sócrates), Belmiro de Azevedo, José de Mello, Joe Berardo, e muitos outros que sabem bem como se situar e apertar o cinto na crise… o cinto dos outros e outras. Os governos, por todo o mundo, acorreram a dar colo aqueles que mais acumulam.

O desemprego é anunciado às dezenas de milhar todos os dias. As pessoas sofrem com a chantagem da “crise” e ao mesmo tempo é-lhes pedido para baixar ainda mais as expectativas de vida porque as dificuldades são muitas.

Começa a estar na hora de se propor aquilo que é justo. Começa a estar na hora de colocar questões como a proibição de despedimento nas empresas que tiveram elevados lucros nos últimos anos e equacionar a utilização desses lucros milionários, não no preenchimento das contas dos capitalistas, mas para pagar os empregos e suportar as vidas de quem não tem alternativa senão viver dificilmente do seu trabalho. Começa a estar na hora em exigir de quem acumulou à custa do trabalho dos outros que reforce a segurança social de cada país.

Os governos que têm ajudado de várias formas à instalação e manutenção de empresas, com incentivos fiscais, com a cumplicidade entre o IEFP e as empresas para fornecimento de mão-de-obra barata, e na desresponsabilização das funções sociais, têm que tomar posição e não ficar impávidos e serenos à espera da derrocada que observamos todos os dias.

rUImAIA

Fontes: notícia do Público aqui.
Euromemorandum 2008 aqui.

ps: Não faltarão “pessoas com ideias” a justificar o que se pode e não pode fazer, do ponto de vista técnico e não só. Ainda bem. Era bom discutir isto.

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