Pandemia: estafetas da Uber ou Deliveroo são “carne para canhão” (artigo do Courrier International)
Traduzimos aqui um artigo do Courrier International, publicado no passado dia 20 de março, sobre a desprotecção de quem garante, através das plataformas digitais, o serviço de entrega de refeições.
Pandemia: estafetas da Uber ou Deliveroo são “carne para canhão”
Ao mesmo tempo que muitos países europeus implementaram medidas de confinamento, a entrega de refeições ao domicílio continua a ser permitida. O site Politico destaca os riscos que enfrentam esses trabalhadores precários.
“Os países estão a fazer sacrifícios sem precedentes para combater o novo coronavírus”, descreve o site Politico, mas “desistir do luxo de receber hambúrgueres ou sushi não é um deles”.
Por toda a Europa, como descreve este mídia de Bruxelas, as ruas estão vazias. Pede-se às pessoas que fiquem em casa para limitar a propagação do vírus e o risco de serem infectadas. Todos os restaurantes estão fechados. Mas em Paris, Milão e noutras cidades, os estafetas Uber ou Deliveroo [ou Glovo] continuam a percorrer as cidades para entregar comida. Algumas plataformas, como a UberEats em Portugal, chegaram a “reduzir os custos de entrega para atrair clientes”. A Deliveroo, por outro lado, “estabeleceu o que é chamado de ‘entregas sem contato’” entre o estafeta e o comprador, ficando este mais tranquilizado.
Trabalhar para manter uma renda
E os estafetas? Aqueles que “estão na linha de frente da crise do novo coronavírus, são economicamente incentivados a continuar a trabalhar, apesar dos riscos para a sua saúde e a dos clientes”, responde Politico. Na grande maioria dos casos, “eles não têm escolha a não ser continuar a trabalhar se quiserem continuar a pagar a renda da casa, porque não têm acesso a apoio no desemprego ou na doença”.
Lorenzo Righi, que trabalha na Deliveroo, diz: “Temos de escolher entre ficar em casa e proteger a nossa saúde, sem poder pagar a renda de casa e as contas, ou continuar a trabalhar colocando a nossa saúde em risco.” O estafeta italiano não entende porque é que a entrega a domicílio ainda é permitida. Afinal, receber “sushi, pizza e hambúrgueres em casa não é um serviço público essencial, como hospitais, bombeiros e transporte público”.
“Somos essencialmente carne para canhão”
Já as plataformas defendem-se alegando ter tomado medidas. A Uber, por exemplo declarou que “oferece aos motoristas e estafetas afetados pela covid-19 ou que estão em quarentena, uma compensação financeira por um período que pode ir até 14 dias. A empresa também interrompeu o seu serviço de transporte de passageiros UberPool na França e no Reino Unido”.
“Haverá um antes e depois do coronavírus”
A empresa Deliveroo, entretanto, disse ter criado um “fundo de apoio” para estafetas doentes e em quarentena. Mas, testemunha Vincent Fournier, estafeta em Paris, “somos essencialmente carne para canhão”. Relativamente a luvas, máscaras, gel ou toalhetes, a “Deliveroo não nos disponibilizou nada. Temos de ser nós a pagar tudo”. Para Salwa Toko, presidente do Conselho Digital Nacional na França, entrevistada por Politico, esta crise pelo menos tornou possível “trazer o debate para primeiro plano” sobre as plataformas. Optimista, ela garante: “Haverá um antes e um depois [Covid 19]”.
by