Precariedade em debate no "Expresso da Meia-Noite"
Tiago Gillot, dos Precários Inflexíveis, participou no programa “Expresso da Meia-Noite” da SIC Notícias. Foi um debate que permitiu perceber vários dos argumentos dos habituais opinadores, mas desta vez confrontados directamente com a visão de um trabalhador precário.
Ficou sublinhado, pela voz do Tiago, que a precariedade não é uma inevitabilidade mas uma escolha trágica; mas também que os trabalhadores precários afirmam a inexistência de qualquer confronto de gerações ou divisões entre trabalhadores, ideia que insistentemente procura lançar os trabalhadores uns contra outros. Pelo contrário, estamos juntos porque sabemos que os direitos não são luxos e que a precariedade é um projecto global. A luta contra a precariedade é do conjunto dos trabalhadores e assim vem sendo assumida.
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Por seu lado, o comentador Vicente Jorge Silva (autor da expressão “geração rasca”) aproveitou para desvendar mais um paradigma ideológico defendendo que “a liberdade se paga com a precariedade” e que portanto, existe uma oposição entre direitos e liberdade. Outro dos comentadores apressa-se a dizer e repetir “…isso não se pode dizer em público”.
Pedro Lomba e António Dornelas repetiram ideias sobre a necessidade de manter um pretenso “realismo”. Este “realismo” é a base da argumentação de quem, numa posição de situacionismo ou imobilismo, não está disposto a confrontar os poderes que remetem o país e os cidadãos para as dificuldades nem sequer a impunidade generalizada dos patrões incumpridores das leis laborais.
António Dornelas, ex-Secretário de Estado do Trabalho e Coordenador do Livro Verde sobre as relações laborais (2006), só pode estar “orgulhoso” pelo seu trabalho, pois indicou o caminho à revisão das leis laborais no chamado Código “Vieira da Silva”, que viria a impor mais dificuldades e legalizar a precariedade.
Afirmamos que não há liberdade sem direitos no trabalho e na vida. Quem defende a precariedade como inevitabilidade defende a existência de uma democracia apenas formal. Não o aceitaremos nunca. Por isso, estaremos na rua, apoiando e engrossando as próximas mobilizações: o protesto Geração “à rasca”, no dia 12 de Março; e a manifestação nacional convocada pela CGTP para o dia 19 de Março.







Foi uma merda de debate, diga-se. Vicente Jorge Silva deve ser um frustrado na vida. Estragou uma hora inteira a falar dos seus traumas jornalísticos. Gaste a reforma que tem a ir ao divã, em vez de fazer perder tempo de antena importante para o debate de ideias. Já o do ISCTE ia pelo mesmo caminho. Como ex aluno do ISCTE, meteu-me nojo, mas enfim, aquela «casa» tem muita gente que mete nojo ultimamente. O representante dos jovens (e menos jovens; os precários, em suma), o Tiago, fez o que pôde.
A forma subtil, mas tendencialmente preconceituosa como o Tiago é tratado pelos restantes 3 convidados, demonstra um comportamento de aparente superioridade social, bem como, um consequente desigual tratamento no código formal como é interpelado.
É aterrador como é possível nos dias de hoje ouvir-se na televisão que “a liberdade se paga com a precariedade”. De facto o Sr. Vicente Jorge Silva poderá querer dizer por exemplo, que um qualquer recluso, não é tão precário como um trabalhador a recibos verdes do Estado. Ou poderá mesmo querer dar razão à famosa, nada precária e empreendedora frase de que o trabalho liberta “Arbeit macht frei”. Enfim, maravilhas jornalísticas, sociais e políticas grosseiras e lamentavelmente rascas. Mas como na história do ovo e da galinha, nem um nem outro são inocentes, dar tiros nos pés, mesmo que de forma inadvertida dá razão a alguns esforçados e sabedores políticos, que preferem o silêncio e os consequentes tabus, em vez de aumentar exponencialmente a asneira.
No que diz respeito ao realismo anunciado por Pedro Lomba e António Dornelas, seria interessante relembrar que a realidade social, económica e política não se resume a apenas uma (a deles por exemplo), mas sim, à síntese de diversas e multifacetadas realidades, que originam depois de somadas uma maioria. Este quadro estatístico é posteriormente tratado de forma generalizada pela média e comentadores políticos, balizando tudo e todos de forma uniforme. A pior das realidades é que essa precariedade nos últimos anos tem crescido de tal forma que é já a realidade reinante.
Quem quer criar ruído à volta da precariedade laboral, centra e simplifica o problema em torno da questão geracional, fazendo crer que este é um problema que se resume a um grupo de jovens e menos jovens tendencialmente rasca e desordeiros.
Todavia, é precisamente a agenda política europeia, que ao apontar a falência da Segurança Social como garantida em todos os países da Europa dita desenvolvida, salienta a importância da responsabilidade geracional, afastando em absoluto os interesses de avós e pais dos actuais filhos e netos.
Resumir este debate a uma questão geracional é demasiado simplista, e poderá erradamente rotular este debate como algo exclusivamente associado à natural rebeldia de massas mas jovens. No entanto, a solução do problema passa inevitavelmente por um compromisso e debate que tem de ser intergeracional.
Os erros políticos das últimas décadas obrigam a este debate e a uma fatal partilha da responsabilidade do problema. Não poderão ser apenas os filhos e netos a pagar os erros do passado. Seria demasiada cobardia geracional, irresponsabilidade política e egoísmo material e moral. O presente é o futuro, e deve começar agora.
Exigisse o fim das reformas principescas superiores ao que auferiram enquanto trabalhadores.
O pior problema da precariedade é que a médio prazo obriga à inevitável constatação de que não compensa trabalhar. Para um país que diz procurar empreendedores é no mínimo nefasto.
Parabens ao Tiago.