Relatório sobre confrontos no dia da Greve Geral não responsabiliza o poder político

Depois de Miguel Macedo ter dito que «Este não vai ser um daqueles casos em que se manda averiguar no país e depois nunca há conclusões», sai agora, já com a opinião pública desviada, o resultado do tão esperado relatório da PSP sobre as agressões por parte das forças policiais durante a Greve Geral do passado dia 22 de Março. 
 
Quem esperava que o processo disciplinar anunciado aos agressores fosse um sinal de optimismo para o futuro, pode no entanto desenganar-se. Entre o início de Abril e hoje, o plural com que se prometiam punições para os agressores foi discretamente transformado num singular “um dos polícias envolvidos nos confrontos no Chiado será alvo de um processo disciplinar.”

De acordo com a PSP, não só foram justificadas as agressões a cidadãos desarmados que usufruíam do seu direito de se manifestar ou apenas do seu direito de caminhar por uma rua pública numa zona turística, como ainda houve lugar a uma subavaliação da ameaça de grupos presentes no local. Leia-se, numa tentativa clara de demagogicamente vilanizar os manifestantes, que aquelas pessoas não só mereceram as joelhadas, pontapés e bastonadas com que foram presenteados por vários polícias (e não apenas por aquele que será alvo de um processo disciplinar) como elas eram ainda mais perigosas do que pareciam, pelo que os polícias até foram simpáticos na sua atitude para com os cidadãos e cidadãs que os assustaram com as suas máquinas fotográficas, as suas chávenas de café e as suas palavras.
Mantém-se a sugestão de identificar melhor os jornalistas presentes para que não sejam agredidos indevidamente. Para os cidadãos agredidos indevidamente, talvez se devam vestir com coletes forrados com a Constituição.
Continuam por apurar, apesar da diligência e da transparência prometidas há uma quinzena atrás pelo Ministro da Administração Interna, as responsabilidades dos superiores hierárquicos que ordenaram a carga policial ou que foram incapazes de a controlar. Na senda do que se está a passar em Espanha, temos agora mais do que nunca estar com atenção à protecção da democracia e dos direitos civis, não vá o Direito de Manifestação ser discretamente retirado da Constituição Portuguesa, substituído pela necessidade de protecção dos polícias que não sabem avaliar o nível de perigosidade da Liberdade de Expressão e do Povo, quando reclama as ruas para si.
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