Sábado: Manifestação de Militares em Lisboa contra a austeridade (entrevista com Manuel Carcel AOFA)

Este fim de semana os militares, representados pela Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), a Associação Nacional de Sargentos (ANS) e a Associação de Praças (AP) manifestar-se-ão em Lisboa, partindo no sábado às 15h da Praça do Município e dirigindo-se aos Restauradores. O Coronel Cracel, da Associação dos Oficiais das Forças Armadas, entrevistado pelos Precários Inflexíveis, referiu que “no essencial, a austeridade aplicada da forma injusta que todos conhecemos e sentimos, constitui o denominador comum causador do sentimento de revolta que se vai apoderando de todos, militares ou não militares!” dando a perspetiva assumida pelos organizadores, de que este é um protesto que também apela à participação de toda a população.

Manuel Cracel, coronel e presidente da AOFA, em entrevista com a ACP-PI reforça o apelo à participação no protesto, referindo que se “os portugueses entenderem por bem acompanhar-nos numa iniciativa em que, pelas razões apontadas, serão expostas razões e denúncias que obviamente se confundem com as angústias e desesperança de todos, serão bem vindos como não poderia deixar de ser. Acrescentaria até que seria uma honra para nós percebermos que os portugueses estão ao lado das suas Forças Armadas!”

Os militares apoiaram as manifestações “Que se Lixe a Troika, Queremos as nossas Vidas!” do passado dia 15 de Setembro, declarando na altura a AOFA que se solidarizavam com “todas as iniciativas que, no exercício de um direito de cidadania, afirmem a recusa face a práticas injustas sempre apresentadas sob a capa de nobres objetivos”, tendo ainda referido que os militares “não serão, nunca,  como a Constituição obriga, instrumento de repressão sobre os seus concidadãos que um dia juraram defender”.

Cracel referiu que os militares têm sido alvo de medidas que, “particularmente no âmbito da Administração Pública, os afetaram de igual modo, num contexto geral de a todos fazer pagar os desmandos praticados por alguns”, pelo que “nada nos diferencia dos restantes cidadãos no que toca às consequências que resultam da aplicação de medidas”. No entanto, a especificidade do regime militar tem levado a que “medidas cegas” configurem “penalizações ainda maiores quando aplicadas a realidades diferentes. Facilmente se compreenderá que, a um universo de cidadãos (neste caso cidadãos fardados) que não usufruem de um significativo conjunto de direitos, liberdades e garantias, restrições que são acompanhadas de severos deveres, consubstanciados nos Regulamento de Disciplina Militar e no Código de Justiça Militar, devessem ser consideradas tais especificidades, sob pena de as injustiças de que somos alvo, como todos, assumir em tal contexto, proporções ainda maiores.”

Sobre a situação dos militares e um acréscimo da instabilidade laboral e precariedade, o coronel refere que a mesma faz também parte do descontentamento entre as fileiras: “importa que sejam garantidas condições que preservem a estabilidade e a segurança e não o seu contrário: a instabilidade e a insegurança”. “Também no seio militar não há área que não esteja sujeita a medidas que geram a degradação das condições em que os militares operam: no âmbito financeiro, das carreiras, de apoio social, da saúde, etc.”, com “um contínuo processo de degradação das condições em que operam as próprias Forças Armadas (FA’s), ao ponto de já termos denunciado publicamente o receio de que a postura prosseguida pelos governantes obedeça a uma estratégia cuja finalidade seja a sua descaracterização e desarticulação, em manifesto desrespeito pelo que institui a Constituição da República Portuguesa”. A título de exemplo o presidente da AOFA refere que “a insuficiência de meios já não permite o exercício de ações de soberania sobre uma parcela significativa do espaço marítimo”

As associações que convocam esta manifestação de militares mas que contam já com o apelo à participação de vários sectores não-militares já solicitaram publicamente a Cavaco Silva a fiscalização preventiva do OE para 2013. No sábado prometem continuar a luta e apelam à participação popular nos protestos, referindo que a sua subordinação ao poder político, não “os compromete com a defesa de outros interesses que não sejam os do País”.

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