Salários desceram mais de 100 euros em dois anos, mas BCE quer descida ainda maior

Em apenas 2 anos os salários desceram mais de 100€
Em dois anos os valores dos salários líquidos dos trabalhadores em Portugal sofreram, em média, uma redução de 107 euros, de acordo com vários jornais diários (ver aqui e aqui).

Essa tendência de diminuição salarial verifica-se desde 2010, mas de forma mais agravada desde há um ano para cá, quando o Governo pediu ajuda financeira à Troika. Os cálculos são baseados  nos dados do Banco de Portugal relativos às transferências bancárias de ordenados, feitas pelas empresas, o valor líquido médio dos salários no primeiro semestre deste ano rondou os 1020 euros mensais, menos 107 euros que o valor praticado no mesmo período de 2010.

O mês de Junho reflectiu ainda a suspensão do pagamento dos subsídios de férias aos funcionários públicos, verificando-se no montante global dos salários referentes a esse período uma redução de 18% face aos primeiros seis meses de 2011. Esta redução foi a maior desde há 11 anos.

Os dados do Banco de Portugal indicam ainda uma considerável descida no número de portugueses a receber ordenado, que será consonante com a galopante subida da taxa de desemprego.

Recorde-se que o FMI e a OCDE recomendam a Portugal que reduza ainda mais os salários por forma a supostamente ganhar ‘competitividade’ e combater o desemprego. E esta sexta-feira vimos o presidente do Banco Central Europeu juntar-se a estas vozes e exigir a descida dos salários nos países sob intervenção das troikas; ainda nos lembramos que o coordenador da missão do FMI em Portugal prometia que não haveria cortes nos salários dos privados.

Analisando a política seguida nos últimos anos podemos verificar que não só o desemprego aumentou como as famílias perderam poder de compra e vivem hoje estranguladas por uma carga fiscal alta, o que leva a uma diminuição geral no consumo e inevitavelmente a esse aumento de desemprego.

Os países mais desafogados em termos financeiros já perceberam há muito que a política de baixos salários não é motor da economia e que as suas dividas públicas crescem se não houver liquidez proveniente da taxação de produtos e serviços. Só as economias baseadas em mão-de-obra barata,  e que tipicamente deixam os direitos humanos e de trabalho nos porões mais obscuros, conseguem crescer à custa dos trabalhadores alimentando constantemente fortunas colossais que se deslocam ao sabor dos desumanos  mercados financeiros. Curiosamente os países onde as ‘troikas’ ( FMI, Banco Mundial,etc…) tiveram mão foram aqueles que mais tempo viveram em ditaduras geradoras de oligarquias que fizeram fortunas à custa da exploração dos trabalhadores e dos recursos e riquezas naturais de domínio público.

Portugal, entre outros, é um dos países da Europa onde o fosso entre ricos e pobres é maior o que revela a essência das políticas traçadas nos últimos anos e que nada contribuíram para a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e das famílias. Outro dado curioso é que em tempos ‘austeritários’ as maiores fortunas continuam a crescer para os que patrioticamente deslocaram as duas sedes financeiras para países mais baixos.

Provavelmente os nossos 107 euros andam por lá…

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