Saúde – Administrativos por 260€ a falsos recibos verdes.

Na continuação da senda de destruição e privatização do Serviço Nacional de Saúde (SNS) os Centros de Saúde de Lisboa têm vindo há algum tempo a contratar empresas de trabalho temporário para colmatar a falta de profissionais administrativos, resultante do impedimento de novas contratações nos sectores públicos. Segundo informação do Diário Económico os novos concursos obrigam os trabalhadores a aceitar trabalhar a falsos recibos verdes, com substituição de quem recusa por outros trabalhadores a falsos recibos. E-Sycare e Kelly Services são as empresas referidas.
    
Muitos dos trabalhadores dos Centros de Saúde de Lisboa eram já contratados pela Kelly Services (Empresa de Trabalho Temporário – ETT) e recebiam cerca de 650€ mensais em contratos a termo incerto. Foram recentemente convidados por esta mesma ETT a trocar os contratos de trabalho por falsos recibos verdes. Como é típico das empresas de recrutamento temporário os funcionários apenas foram contactados no último dia ao fim da tarde e obrigados a dar uma resposta no momento. A maioria recusou a proposta e prontamente outra ETT de nome E-Sycare (uma das empresas envolvidas no escândalo da contratação de enfermeiros a 3,96€ à hora) passou a recrutar para as mesmas posições novos trabalhadores, directamente sob a forma de falsos recibos verdes, com vínculo portanto ainda mais precário, auferindo um valor bruto de 490€ mensais. Os cálculos básicos dos descontos para a Segurança Social e IRS, levam a concluir que estes profissionais deverão levar para casa apenas 260€ por mês.
Sob a chantagem e o estigma do desemprego as trabalhadoras e trabalhadores que aceitaram esta imposição e os novos ‘recrutas’ estão já nas mesmas funções, em situação de ‘formação on-job’ (uma expressão moderna que vai servindo para tudo). Esta formação é prestada pelos próprios Centros de Saúde, mas as ETTs pagam aos novos funcionários apenas 200€ no primeiro mês, uma espécie de mesada para alimentação e passe de autocarro devido a estarem “em formação”.
Sobre esta situação o Presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Cunha Ribeiro, afirmou que “o serviço de recrutamento foi comprado, desconheço por inteiro” as condições oferecidas às trabalhadoras e trabalhadores.

Perante os escândalos mais recentes no sector da Saúde, com enfermeiros, médicos, pessoal auxiliar e administrativo a serem transaccionados como mercadoria entre Ministérios e Empresas de Subcontratação e de Trabalho Temporário, é importante perceber qual a estratégia do ministro Paulo Macedo para a Saúde: o desmantelamento do SNS pelo agravar constante das condições para os profissionais, desinvestimento nas infraestruturas de alta qualidade, transferindo mais e mais recursos públicos para o sector privado através de subsídios às empresas de saúde privadas, PPP na Saúde e privatização e alienação de serviços públicos de referência como a Maternidade Alfredo da Costa. Como que justificando esta destruição, é apenas necessário lembrar as palavras da presidente do Espírito Santo Saúde, Isabel Vaz “Melhor negócio do que a Saúde… Só as armas!”
A imposição da precariedade na Saúde tem nomes. Estes nomes estão a seguir aos títulos Ministro, Secretário de Estado, Presidente da ARS… E os seus únicos beneficiários são os grupos privados de Saúde (dos quais aliás provém grande parte do executivo da Saúde, começando pelo Ministro), e as empresas de trabalho temporário e de subcontratação que, como vimos denunciando há anos, nada produzem, senão Precariedade, roubando aos trabalhadores não só os seus direitos como até metade dos salários. 
De resto, perdem os profissionais, perdem os cidadãos, os contribuintes, os utentes, a qualidade os serviços, perde o Serviço Nacional de Saúde. Perdemos todos.
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