Sócrates quer indexar salários à disposição dos patrões

Dias de férias e feriados são sempre bem aproveitados pelos governos em Portugal para discussão ou decreto de medidas que dificultam a vida da maioria das pessoas. Hoje, Sócrates chama responsáveis da UGT e da CGTP para lhes apresentar a ideia de que a economia precisa que os salários sejam mais flexíveis, conforme a produtividade.

Sócrates pretende aprofundar o ataque que se funda no preconceito dos patrões contra os trabalhadores: aquele que diz que os trabalhadores não gostam de trabalhar, não querem trabalhar, e que diz que garantir um salário base que lhe assegure as condições de vida é contrário à produtividade e à economia das empresas.
Sublinhe-se que Sócrates e seus parceiros de governo (direita política) agem como patrões, talvez porque hoje quem controle os governos sejam realmente os patrões e o capital. A definição proposta agora não é nova e remete-nos para o Taylorismo, 100 anos depois. Ou melhor, 100 anos de retrocesso, nem mais, nem menos.

O princípio da indexação do salário coloca a relação do trabalhador e do trabalho com o produto e com a produção, na mesma posição de relacionamento existente entre uma peça ou material e o mesmo processo produtivo. Rejeita-se com esta proposta de barbárie social, a noção de que o trabalhador é uma pessoa que precisa do trabalho enquanto forma de ma sobrevivência e que essa sobrevivência depende de relações sociais, umas com custos económicos outras com custos de tempo e de disponibilidade mental que não dependem nem dependerão da quantidade ou qualidade de trabalho do indivíduo.
Remete-se então o trabalhador, o trabalho, para a necessidade de, sobre a avaliação do patrão daquilo que é o seu esforço, multiplicar as unidades (horas) de trabalho necessário à sua própria sobrevivência digna, bem como à aceitação da incerteza permanente sobre qual será ,no período seguinte, a avaliação do patrão ou da economia sobre o valor resultado do seu trabalho.
Portanto, estaremos a avaliar o salário dos profissionais, ou seja, das pessoas que precisam de trabalhar para sobreviver e ter uma vida digna, sobre a quantidade de injecções dadas nos doentes enquanto enfermeiros, a quantidade de linhas de software programadas enquanto programador, a qualidade do discurso e argumentação enquanto advogado, ao número de aulas que o professor dá por mês, ao número de km que um motorista conduz, à velocidade com que os transportadores conseguem fazer entregas de encomendas.
A indexação que rejeitamos é aquela que nos mostra que o salário mínimo não chega para um indivíduo pagar uma renda de casa, pagar a água, electricidade, o gás, o transporte colectivo, a alimentação. Não chega para juntar a isso os estudos, os filhos, o pagamento da creche que não é pública,  o pagamento das propinas da faculdade ou dos computadores que precisamos para estudar e trabalhar em casa.
Sócrates, e quem quer que o apoie, junta-se com esta proposta aos criminosos que ceifam vidas com a pobreza, com o roubo de salários já demasiado baixos, com a implosão do Estado Social que ainda permite o acesso a direitos mínimos aos pobres ou remediados. Junta-se Sócrates aqueles que consideram que 100 anos de evolução social à custa de luta, de greves, de mobilização e muitas vezes de morte de muitas pessoas, foram algo que não faz sentido porque os tempos modernos são aqueles que ficaram lá para trás.
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