Sócrates repete elogio da precariedade em Santo Tirso

Parece difícil de acreditar, mas é verdade: o primeiro-ministro José Sócrates, um ano depois de ter apostado numa rentrée a anunciar uma catedral da precariedade em Santo Tirso para falar de emprego, esteve ontem, ao lado de Zeinal Bava, a convencer-nos de que se combate o desemprego com a implantação de call-centers. O call-center da PT em Santo Tirso, muito patrocinado politica e financeiramente, está a tornar-se num ícone da teimosia do primeiro-ministro: insiste na promoção da precariedade e na crença de que somos todos parvos e nos deslumbramos com os anúncios de “emprego” aos magotes.
“Lembram-se da descrença, do pessimismo, das críticas? Lembram-se da gente que dizia que este emprego não prestava?”. É assim que Sócrates pensa estar a rematar o tema e a ganhar nova legitimidade para o seu descaramento.

Tudo é, talvez, mais moderado agora. Já não são “1200 postos de trabalho”: para já são 800… Zeinal Bava, presidente da Comissão Executiva da Portugal Telecom, também estudou a lição e já sabe que tem que fingir que está a “oferecer” empregos e que são qualificados: afinal, a deslocalização – sim, é disso que se trata: ganhar escala para “racionalizar recursos” – precisa de gente “que encara esta tarefa como algo que quer fazer a médio e longo prazo. Nestes centros investimos muito na mão-de-obra”. Nós traduzimos: vamos para os sítios onde o desespero do desemprego é maior, onde podemos contar com as mais baixas espectativas dos trabalhadores e, já agora, onde temos todas as facilidades para nos instalar.

Basta uma consulta rápida na net para perceber coisas simples. Os “empregos” para este call-center da PT em Santo Tirso estão a ser “oferecidos” por todas as empresas de trabalho temporário. Anúncios que nem dizem a duração do vínculo, o tipo de contrato ou a remuneração: por exemplo, aqui, aqui ou aqui.

Ou seja, fica por saber a questão essencial. E temos direito a mais do que desconfiar. Afinal, senhor primeiro-ministro, terá coragem de nos dizer qual o tipo de vínculo através do qual estas pessoas estão a ser contratadas? E qual a remuneração mensal destas centenas de trabalhadores e trabalhadoras?

Uma dúvida não parece restar. A Portugal Telecom não quer novos funcionários e, com a aprovação de José Sócrates, sabe bem que é bem melhor pagar, por cada trabalhador, mais meio salário (daqueles a sério) às empresas de trabalho temporário, do que pagar directamente o meio salário que verdadeiramente chega aos bolsos de cada uma daquelas pessoas ao final do mês.

notícias, por exemplo, aqui, aqui ou aqui.
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