Troika ajuda Governo a impor precariedade à custa do flagelo do desemprego

Ficámos ontem a saber, sem surpresa, que a troika acha que tudo está tudo no “bom caminho” em Portugal. Ainda assim, na quarta revisão do seu plano de intervenção no país, a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu afirmam que se podia ir ainda um pouco mais longe, defendendo que “novas acções para melhorar o funcionamento do mercado de trabalho são urgentes”. Ou seja, a troika quer oferecer ao Governo a legitimidade para promover ainda mais a precariedade na lei e no quotiano de milhões de pessoas – a isto chamam, na linguagem implacável da selecção social, “dar às empresas uma maior flexibilidade para fazerem convergir os custos de trabalho e a produtividade”.
A argumentação revela todo o cinismo do regime de austeridade e dos seus autoritários mandantes e executores. Ao crescimento brutal do desemprego, resultado evidente da imposição da mais violenta austeridade, deve somar-se a “solução” da precariedade – conversa antiga, mas que hoje tem ambição de tornar-se em regime social. O país imaginado pela troika e por Passos Coelho e Paulo Portas é habitado por trabalhadores obedientes, pagos miseravelmente quando têm trabalho, precários que estão frequentemente desempregados.
Generalizar a precariedade e baixar salários não responde aos níveis drásticos do desemprego – responde, isso sim, às exigências de quem vive à custa da exploração. A precariedade nunca deixou de subir a par do desemprego, são duas realidades que se alimentam ainda mais vorazmente neste ciclo de roubo colectivo descarado. O decréscimo brutal dos rendimentos dos trabalhadores não responde ao desemprego – como é evidente, os salários baixam quando o desemprego aumenta, mas o contrário não é verdade. Invocar a produtividade é um insulto, quando o nível de produção nacional basicamente se manteve apesar da redução brutal do número de pessoas a trabalhar.
Como já aqui dissemos, o eventual investimento em políticas de emprego que verdadeiramente respondam ao problema fica capturado nos milhares de milhões para a entregar a quem só acumula. É este o tal “bom caminho”: tirar ao conjunto da população para entregar à banca, enquanto se desfazem direitos colectivos e as perspectivas de vida de milhões de pessoas.
notícias, por exemplo, no Público, no Expresso, no Jornal de Negócios ou no Sol.
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