V. O que quer o Governo? | Reduzir a Taxa Social Única
A redução da Taxa Social Única significa diminuir a responsabilidade das empresas nas contribuições para a Segurança Social. Actualmente, os descontos no trabalho mediado por um contrato representam 34,75% (23,75% feitos pela empresa e 11% pelo trabalhador). A proposta de redução incidirá apenas na parte que convencionalmente se considera ser da responsabilidade das empresas, numa medida que é justificada com o aumento da competitividade e o incentivo ao emprego.
Mas a realidade mostra que não será bem assim. Um artigo recente no jornal Público demonstra bem que a medida não terá os efeitos propagandeados: a redução de custos para a generalidade das empresas será muito curta – na estrutura dos seus custos pesam muito mais os gastos com matérias primas ou com a energia, por exemplo; o alegado incentivo ao emprego não terá qualquer impulso por esta via; um pequeno corte nos custos intermédios das empresas chegaria a resultados superiores. As empresas que beneficiariam desta medida são apenas aquelas que exploram o trabalho de forma intensiva.
Se avançar uma redução da Taxa Social Única, é objectivamente mais uma parte do salário que está a ser retirado aos trabalhadores, dinheiro que foi gerado pelo trabalho e que, não sendo recebido nos ordenados, fica retido na Segurança Social para pagar mais tarde reformas, pensões e outras prestações sociais. A isto acresce um provável aumento do IVA para compensar (certamente de forma insuficiente) o financiamento da Segurança Social. O que se prepara é, portanto, um roubo em várias frentes: diminuição do salário, descapitalização da Segurança Social e ainda o aumento de impostos (que incidirá de forma mais acentuada sobre os trabalhadores).
As organizações patronais e figuras várias que representam os seus interesses têm obviamente apoiado esta medida. O silêncio do Governo sobre a forma concreta da sua proposta abriu campo a uma especulação voraz, porque os patrões sentem a oportunidade e alimentam esta nova exigência. Ferraz da Costa falou destemidamente numa redução de mais de 80% (ver aqui); a Confederação da Indústria Portuguesa reagiu corporativamente, enquanto outros exigem ter também direito a esta oferta (ver aqui). Neste espectáculo degradante dos interesses, com total cumplicidade do Governo, só os direitos dos trabalhadores ficam de fora.
Não aceitamos a redução da Taxa Social Única, não só porque não resolve os problemas da economia e do emprego, mas sobretudo porque não é admissível mais um corte no salário e nos direitos dos trabalhadores. O sistema público de Segurança Social é um direito e uma garantia que não pode estar ao serviço dos interesses que se organizam para ganhar todos os dias com a crise. Descapitalizar a Segurança Social e aumentar impostos não é uma solução: é apenas mais uma forma de transferir rendimentos da maioria da sociedade para uma minoria privilegiada.
Ver também:
I. O que quer o Governo? | Contrato único
II. O que quer o Governo? | Banalizar o trabalho temporário
III. O que quer o Governo? | Perseguir os desempregados
IV. O que quer o Governo? | Legalizar os falsos recibos verdes