Demissões de professores nas Actividades de Enriquecimento Curricular

As Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) são mais um escandaloso caso de precariedade patrocinada pelo Estado. Com a agravante de ser um programa do Governo, dirigido a sustentar a propagandeada “escola a tempo inteiro” ou “o inglês no 1º ciclo”: esta bandeira de Sócrates esta a ser segurada por professores precários por esse país fora, obrigados a passar recibos verdes a empresas de trabalho temporário (ETT) de vão-de-escada, quase sempre inventadas para o efeito, tal é o volume do negócio e o nível da exploração. As Câmaras Municipais são cúmplices, uma vez que, tendo esta nova competência da “escola a tempo inteiro” se descartam para as ETT e fingem que não têm nada a ver com isso.

Ora, hoje ficamos a saber, através do Correio da Manhã, que em Abrantes há cerca de 50 professores das AEC que se demitiram: deixaram de aguentar os salários em atraso e todos os abusos. Como seria de esperar, ninguém tem culpa: nem a ETT “Lúdico Ideias” nem a Câmara Municipal. Os ordenados de Abril e de Maio estão por pagar e cerca de mil estudantes ficaram sem duas disciplinas. Será que nenhuma evidência pára esta vergonha nacional?

…e o “take” da Lusa sobre o assunto:

Abrantes, Santarém, 05 Jun (Lusa) – Cerca de mil alunos do ensino básico do concelho de Abrantes estão desde o início do mês sem duas actividades de enriquecimento curricular (AEC), por alegada falta de “pagamento aos professores”, disse hoje fonte da autarquia.
A vereadora Isilda Jana, que tem o pelouro da Educação na Câmara Municipal de Abrantes, explicou que a situação se deve ao facto de a empresa responsável pelas AEC, a Lúdico Ideias, não pagar aos professores”, mas o seu gerente garantiu que “a Câmara Municipal não transferiu as verbas relativas aos meses de Abril e Maio”.
A vereadora adiantou que foi determinado com a empresa Lúdico Ideias, com sede em Leiria, que o acerto do pagamento das AEC se realizava no final do ano.
“Como a empresa, desde o início do ano, deu faltas, nós, em vez de fazermos o acerto no final do ano, já o fizemos e verificámos que não tínhamos que pagar mais”, afirmou Isilda Jana, acrescentando que a autarquia chegou a ponderar a rescisão do contrato.
“Não se concretizou porque era uma situação muito complicada, além de ter de se arranjar uma alternativa”, declarou a autarca, assegurando ter tido conhecimento dos vencimentos em atraso, que diz afectar “entre 40 e 50” docentes.
Segundo a responsável, estão em causa duas AEC – Actividade Física e Desportiva e Expressão Musical -, sendo que, com os agrupamentos, adaptaram-se os horários dos alunos de forma a irem para casa mais cedo.
João Gonçalves, um dos docentes das AEC, garantiu ter “cerca de 560 euros” a receber da Lúdico Ideias.
“Em Maio informei a empresa que renunciava ao contrato se não me pagassem os meses de Abril e Maio”, afirmou o professor, adiantando que concretizou a ameaça no final do mês, assim como outros docentes.
O gerente da Lúdico Ideias, Joaquim Albuquerque, explicou que o pagamento dos dois últimos meses aos professores não foi feito “porque a Câmara cancelou a transferência das verbas”, na ordem dos 24 mil euros mensais.
“Ficámos sem capacidade de tesouraria para pagar aos docentes, que não passam de 30”, afiançou, acrescentando que estes foram informados da situação.
Segundo Joaquim Albuquerque, “no acerto efectuado pela Câmara a empresa não foi ouvida”.
“Foi feito à maneira deles”, frisou, admitindo que houve “falhas da empresa”, mas que há problemas que não podem ser assacados à Lúdico Ideias, apontando a elaboração dos horários dos alunos.
“Até Dezembro, os horários não estavam definidos”, disse Joaquim Albuquerque, acusando a existência de “uma sistemática desorganização e desinteresse por parte dos agrupamentos e da Câmara”.

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