20h30: Cavaco fala ao país…

… O que nos garante que a crise política continua. Depois da gincana dos primeiros dias após a demissão de Gaspar e Portas, a intervenção do Presidente só serviu para aumentar o caos e afastar o país e a opinião público do verdadeiro problema, identificado na carta de demissão do ministro das Finanças: a política da austeridade apenas agrava as condições financeiras e destrói o tecido social do país. A Cavaco só interessa manter a troika ad eternum. Que poderá dizer logo?

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Imagem: Bernardo Ereira

O cenário mais lógico e aquele que receberia o respeito da população e a legitimação democrática de qualquer governo foi o primeiro que Cavaco afastou na sua intervenção há uma semana: Eleições. Perante o colapso total de um governo periclitante, o presidente tentou medir as suas palavras entre a condenação à brincadeira levada a cabo por Passos e Portas com o endosso da troika, e a bóia de salvação que atirou ao governo. A introdução do PS nas negociações foi surpreendente, surpresa que apenas foi ultrapassada pela aceitação de António José Seguro a participar (depois de no próprio dia das declarações de Cavaco o PS dizer que apenas aceitaria eleições). Mas longe vão esses dias e após 6 dias de “conversas” para o “acordo de ‘salvação’ nacional”, e identificados os “inimigos” desse acordo, caiu. Não há acordo. Tendo Cavaco dito há dois dias que não queria um governo de iniciativa presidencial, não são muitas soluções em cima da mesa:

– Cavaco pode convocar eleições antecipadas imediatamente, o que já afirmou não querer;

– Cavaco pode deixar o governo em funções apesar de ter reconhecido que o mesmo não tem condições;

– Cavaco pode aceitar a remodelação do governo, o que rejeitou há uma semana;

– Cavaco pode tentar fazer um governo de iniciativa presidencial, o que disse há dois dias não querer fazer.

A não ser que o presidente consiga mais uma vez surpreender toda a gente (como fez na semana passada, depois de 10 anos sem surpresas), o mais plausível é que Cavaco Silva hoje terá que dar o dito por não dito, e fará algo que nos últimos dez dias disse que não faria, o que quer que isso seja. Esperar que venha deste Presidente da República uma boa solução para os problemas do país – e neste caso as eleições são a única solução que confere legitimidade e que defende a democracia – é ignorar os últimos 30 anos em que Cavaco Silva, nas mais variadas posições, comandou os destinos do país. Uma boa solução teria que chocar directamente com os interesses da troika e com os governos da austeridade, da precariedade, do desemprego e da recessão, que Cavaco já provou defender acima de tudo. Mas a esperança, sempre se disse, é a última a morrer.

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