A austeridade é que é uma ameaça

O movimento Precários Inflexíveis – PI – constata que alguma imprensa é permeável às narrativas de novela e de sensacionalismo criadas pelo governo e que descrevem a existência de perigosas organizações em Portugal, no seio do movimento de trabalhadores ou no movimento social em geral.

Consideramos que a maior ameaça às pessoas não mudou desde há vários anos: são os governos agressivos e fanáticos que nos roubam os direitos e a vida, nos mandam emigrar ou aceitar a escravidão e a pobreza. Quem contesta e põe o dedo na ferida da precariedade é considerado uma ameaça – trata-se de criminalizar o acto de reivindicação de direitos. Mas nós, como tantos outros, constituímos a ameaça do não-conformismo em relação à austeridade e às vidas miseráveis que nos impõem.

Agora, mais do que nunca, as direitas PSD-CDS utilizam a polícia para tentar criar um regime de medo através do autoritarismo. Sucedem-se as identificações sumárias na rua (inclusivamente já realizadas pela Polícia Judiciária) sobre quem só está a pintar um cartão ou a realizar uma intervenção cívica. Sucedem-se as intervenções brutais e selváticas dos homens e mulheres do Corpo de Intervenção da PSP, aparentemente descarregando sobre quem apenas luta por todos, sobre quem luta por eles e pelos outros.

O PI considera que, no que diz respeito aos acontecimentos no Chiado, dia 22 de Março, o governo e as chefias da PSP são os únicos responsáveis pela concretização de uma enorme ameaça social. Esta violência organizada resultou em ferimentos em muitas pessoas, no medo e no sentimento de impotência e injustiça em todos os que assistiram à barbárie. Nenhuma organização de trabalhadores se coloca ao lado da barbárie e do autoritarismo.

O PI tem uma posição de diálogo com todas as forças sociais, sejam sindicatos ou movimentos, e estaremos sempre interessados em criar pontes e diálogo para grandes mobilizações unitárias. Mas, nunca fomos, nem seremos, qualquer acondicionador de diferenças políticas ou de organização, porque nos parece que a riqueza do movimento social é precisamente a sua diferença na organização e na actuação, e, por isso, a sua capacidade de inclusão de enormes sectores da sociedade.

O PI tem já encontro agendado para breve com a CGTP, não para conversar sobre a violência policial do Chiado, mas para tratar do incidente ocorrido na praça de São Bento no dia da Greve Geral e, ao mesmo tempo, perspectivar mobilizações futuras.
Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather