Análise | Tempo Inteiro e Tempo Parcial

RESUMO: O trabalho a part-time tem crescido, uma tendência inversa ao trabalho a tempo inteiro, em decréscimo. Estas tendências parecem ter correlações directas, especialmente no período pós-4º trimestre de 2010, o que sugere uma perda directa de trabalho a tempo inteiro para trabalho a tempo parcial. O número de trabalhadores a part-time aumentou em 100mil desde 2006 e é dos poucos que subiu desde a assinatura do memorando da troika. Os baixos salários levam-nos à conclusão que a maioria dos part-times são involuntários e que as empresas têm convertido empregos a tempo inteiro em part-times com corte de salário, mas muitas vezes não cumprindo o corte no horário. Desde o 2º trimestre de 2008 perderam-se 607500 empregos a tempo inteiro (13,2%), e desde a assinatura do memorando perderam-se 270 mil, um declínio ao ritmo de 18 mil empregos a tempo inteiro perdidos por mês.

As tendências inversas do trabalho a tempo inteiro e trabalho a tempo parcial, evidentes nas curvas descritas nos gráficos (a azul o trabalho parcial, a vermelho o tempo inteiro) demonstram uma tendência a nível nacional e também internacional, do aumento dos part-times (verdadeiros ou falsos, voluntários ou involuntários) em detrimento do trabalho a tempo inteiro. O número de trabalhadores a part-time aumentou em 100 mil (17,7%) desde o início de 2006 tendo, em particular desde o 4º trimestre de 2010 havido uma aceleração no aumento dos trabalhadores a tempo parcial, que parece ter correlação estatística directa com o decréscimo de trabalhadores a tempo inteiro, o que pode sugerir uma troca directa entre trabalho que era a tempo inteiro e que passou a tempo parcial. Muitas empresas poderão ter utilizado esta estratégia para reduzir os seus custos com a mão-de-obra. Considerando o baixo valor dos salários em Portugal, acreditamos que a maioria dos part-times sejam involuntários, e muitas vezes os trabalhadores a part-time procurarão, na tentativa de complementar os seus salários, outros part-times ou subempregos. Há ainda o fenómeno do falso part-time, que ocorre quando o trabalhador ou trabalhadora, com contrato a tempo parcial assinado, acaba por trabalhar mais horas que aquelas contratadas, exercendo não poucas vezes um full-time sem a remuneração correspondente. Os part-times são dos poucos empregos que têm subido desde a assinatura do memorando da troika, tendo crescido em 33 mil, uma média de 2200 novos part-times por mês. As más condições gerais deste tipo de emprego e as baixíssimas remunerações são utilizadas como chantagem perante o desemprego crescente, sendo muitas vezes, como referimos, mantidos os horários de trabalho mas mudados os contratos, pelo que os trabalhadores abdicam de parte significativa (por vezes metade) do seu salário para manter os postos de trabalho, embaratecendo a mão-de-obra, como prevê a política da troika.

O trabalho a tempo inteiro vem em decréscimo desde metade de 2008, tendo sido perdidos 607500 trabalhadores (13,2%) desde o 2º trimestre de 2008. Tal como havia sido assinalado para o part-time, no 4º trimestre de 2010 há uma forte queda do trabalho a tempo inteiro. Como foi descrito na Análise do Declínio dos Trabalhos Mais Estáveis, desde a assinatura do memorando da troika perderam-se 270 mil empregos a tempo inteiro, um declínio de 6,3%, ao ritmo de 18 mil empregos a tempo inteiro perdidos por mês).

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