"Demite-te e deixa-nos estudar"

Passos Coelho foi hoje brindado com mais um protesto. Alunos da Universidade Nova de Lisboa ergueram uma faixa com a palavra que a rua tem vindo a gritar há vários meses: “demite-te”. Foi durante o discurso de abertura do primeiro ministro no seminário internacional “A segurança global e os sistemas democráticos: desafios e perspectivas”. No exterior, quando chegava ao local, outro grupo de estudantes tinha recebido Passos Coelho com a mesma palavra de ordem.

Ontem ficou a saber-se que todas as repartições de Finanças receberam ordens da Autoridade Tributária e Aduaneira, para que executassem fiscalmente os estudantes que não tenham o pagamento de propinas regularizado. Esta atitude revela mais uma vez a insensibilidade social deste governo para com as pessoas e a sua vocação para cobrador de dívidas, na esperança de, a todo o custo, cumprir memorandos e aumentar a receita pública.

Se há quem não pague propinas a tempo e horas, a primeira preocupação do governo devia ser a de perceber porque é que estas pessoas não o conseguem fazer. Sabemos que o número de bolseiros diminui drasticamente, sabemos que o número de estudantes com acesso aos restantes serviços sociais escolares – alojamento, refeições, material – também diminui, sabemos que os transportes que levam milhares de estudantes até às faculdades aumentaram bruscamente, sabemos que há muitas famílias que passam fome para que os seus filhos continuem a ter uma educação superior que lhes possa permitir sonhar com um futuro mais risonho, sabemos tudo isto e sabemos que o governo fecha os olhos a todos estes condicionalismos e perante um problema social responde com um ataque de cobrança fiscal.

Depois da faixa erguida, Passos Coelho pediu a um dos seus seguranças, o Serra, “que deixasse os senhores ostentarem o cartaz sem nenhum problema, porque vivemos, felizmente, numa situação de boa saúde da nossa democracia, e não vemos nenhuma razão para que os senhores não possam ostentar as faixas que entenderem”. Mais uma vez o governo e o seu primeiro ministro estão desfasados da realidade e fazem uma análise enviesada do panorama nacional. A intervenção no sentido de deixar os estudantes continuarem a protestar choca com o facto de esse ser um seu direito, e não uma autorização de Passos Coelho. A nossa democracia tem cada vez menos de democrática e pegando na metáfora relativa à sua sanidade, está a caminhar a passos largos para os cuidados intensivos. Que as faixas erguidas com a palavra que anda nas ruas sejam cada vez mais, e que desliguem a máquina a este governo.

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