As condições da Grécia serão aplicadas a Portugal?
Foi esta a questão sublinhada antes e depois da reunião dos ministros das finanças da zona euro de ontem, dia 3 de Dezembro. A reunião foi convocada para fazer o ponto da situação das decisões acordadas na semana passada para a redução da dívida grega: suavização dos prazos de reembolso dos empréstimos europeus e do pagamento dos juros. A banca portuguesa já tinha o seu veredicto pela voz de Ricardo Salgado: não renegociar, não baixar juros. A França e a Alemanha reforçaram a mensagem. Passos Coelho acatou.
Antes da reunião do Eurogrupo, falaram os ministros das finanças alemão e francês. Vítor Gaspar e Passos Coelho, ordeiramente, como é costume, só falaram depois. Tanto o ministro alemão como o francês afirmaram que não seria favorável a Portugal pedir o mesmo tipo de renegociação da dívida. Wolfgang Schäuble usa o argumento do orgulho e decência de Portugal, pois seguramente este país “não gostaria de ser comparado com a Grécia”. Já Pierre Moscovici, ministro francês das finanças, opta por outra estratégia apoiando o governo português: “Tratando-se de Portugal, pelo contrário, o programa está no bom caminho, a sua aplicação segue como previsto. Este país deve colocar-se numa perspectiva totalmente diferente e pode fazê-lo”.
O caminho em que Portugal se está a fazer compreende a destruição da economia e dos serviços públicos, assim como do emprego, como pode ser observado nas recentes análises (aqui e aqui) aos dados do Instituto Nacional de Estatística feita pela Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, que mostram que, desde a assinatura do memorando da troika, há 3,26 vezes mais perda de trabalho a tempo inteiro, 3,31 vezes mais perda de contratos sem termo e 695 vezes mais perda de trabalho por conta de outrem.
Depois da reunião, falou o primeiro ministro português (em Cabo Verde) e o ministro das finanças. Ambos afirmaram que Portugal deveria ser beneficiado com o mesmo tipo de medidas, pois, apesar de o acordo ter sido estabelecido para o caso concreto da Grécia, há um princípio de igualdade de tratamento de todos os países sob programa de assistência financeira. Ou será que deveria? Segundo Passos Coelho: “Como disse o presidente do Eurogrupo, essa matéria deverá ser analisada, no que respeita à Irlanda e a Portugal, numa reunião subsequente do Eurogrupo. Portanto, a seu tempo, sem qualquer ansiedade, veremos no Eurogrupo em que termos é que Portugal e a Irlanda haverão de beneficiar desse princípio de igual tratamento”. Mais tempo a destruir ainda mais Estado para poder eventualmente pagar-se menos de juros.
Mas o mal entendido foi rapidamente desfeito, com Passos Coelho a acatar os conselhos dos ministros das finanças europeus e da própria banca portuguesa, nas palavras de Ricardo Salgado, presidente do BES (aqui).
Perante os comentários “extremamente elogiosos” dos ministros das finanças alemão e francês, o primeiro-ministro português afirma que “Portugal não está a reclamar um tratamento igual ao da Grécia no acordo que foi obtido para a Grécia”, acrescentando peremptoriamente “não queremos, portanto, ter um tratamento e uma solução idêntica à da Grécia, na medida em que não temos uma situação idêntica à da Grécia. Deixem-me recordar que a Grécia viveu momentos extremamente difíceis ao longo de mais de cinco meses de negociações que permitiram desbloquear um apoio financeiro para a Grécia nesta altura. Eu não desejo para Portugal o mesmo tipo de negociação”. Segundo o primeiro-ministro, na Grécia “as pessoas estiveram simplesmente impotentes à espera que existisse um acordo que permitisse pensar que não haveria uma ruptura financeira outra vez”. Em Portugal, pelo contrário, promete Passos Coelho, haverá um regresso aos mercados já em 2013.
Na Grécia, vive-se uma situação de desastre humanitário. Os últimos cortes que foram aprovados para os gregos receberem o novo pacote de ajuda externa, implicaram o despedimento de mais 8 mil funcionários públicos, um novo aumento da idade da reforma de 65 para 67 anos, o corte até 15% nas pensões e corte parcial nos subsídios de férias e um corte nas contribuições do Estado na saúde, sendo os contribuintes obrigados a pagar mais pelas receitas, medicamentos e cuidados médicos. Em 2012 na vive-se na Grécia o sexto ano de recessão consecutivo, os níveis oficiais de desemprego atingiram os 25%, e o PIB grego diminuiu 20%. Passos Coelho insulta a Grécia e confirma que continua a aceitar a chantagem dos 1% contra o Estado e quem trabalha neste país.
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