Discutir a precariedade em Itália

A Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, esteve em Otranto, perto de Bari, no Sul da Itália, participando no debate sobre precariedade e organização de quem trabalha de forma precária. Cada vez mais a articulação de ideias e perspectivas sobre a nova realidade internacional é urgente e o contacto com as outras realidades essencial para percebermos de onde vimos e, principalmente, para onde vamos.

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No acampamento Riot Village, em Frassanito, Otranto, Sul da Itália, pudemos falar com centenas de jovens estudantes italianos, assim como com outros activistas sobre as questões do trabalho, da precariedade e da juventude. O Riot Village é organizado por três organizações de estudantes há 7 anos – a Rete Della Conoscenza, o LINK – Coordinamento Universitario e a Unione Degli Student, e conta com a presença de milhares estudantes do ensino secundário e universitário todos os anos. Uma experiência organizativa importante, altamente politizada e que contribui seguramente para uma maior consciencialização dos jovens e estudantes, com uma ajustada mistura entre férias e formação (desenvolve-se durante 2 semanas).

Participámos num debate alargado sobre a precariedade, a organização dos precários, a articulação internacional e o rendimento universal. Pelos Precários Inflexíveis esteve presente o João Camargo, pelo sindicato italiano FLC-CGIL Claudia Pratelli, pelo blog Quinto Stato Roberto Ciccarelli, pela campanha contra a partida dos jovens “Io Voglio Restare” Claudio Riccio e pelo projecto de Centro Sociais Global Project, Gianmarco de Pieri.

Não existem experiências muito parecidas com a ACP-PI em Itália, embora em Milão a experiência do San Precario tenha algumas semelhanças com a organização portuguesa. A realidade portuguesa, mais agudizada, foi descrita e a experiência da Associação de Combate à Precariedade enquanto organização independente, assim como as experiências unitárias como a Lei Contra a Precariedade ou o Que Se Lixe a Troika, atraíram bastante atenção dos participantes no debate. Neste momento em Itália existe um debate importante no Parlamento, perante o desemprego massivo entre os jovens, que se prende com a atribuição do rendimento universal, que teria como contrapartida a obrigatoriedade de se aceitarem quaisquer empregos oferecidos, a qualquer salário, e à necessidade de se provar a ausência de rendimentos, etc., no que se tornaria uma armadilha para toda a sociedade, num regime de miséria. A nova realidade do regime da austeridade, em cujos principais eixos está a precarização da força de trabalho, a afirmação da nova realidade total da precariedade no trabalho e na vida está presente em todos os países, e a necessidade de articulação crescente entre movimentos e organizações políticas contra a precariedade, a austeridade e o retrocesso social foi reafirmada neste debate, concluindo ainda os presentes que as eleições na Alemanha em Setembro e as eleições europeia de Maio próximo serão importantes momentos para contrariar o rumo catastrófico que está a ser desenhado pela troika.

Coincidentemente enquanto estávamos em Itália confirmou-se a condenação de Silvio Berlusconi a 4 anos de prisão (reduzidos a 1 ano de serviço comunitário ou de prisão domiciliária porque Berlusconi tem 76 anos) e perda de mandato. As reacções foram o mais anti-democráticas possível, com o partido de Berlusconi a ameaçar uma demissão colectiva (fazendo cair o Governo) se o Presidente da República, Napolitano, não amnistiasse o ex-primeiro-ministro. O Senador Sandro Bondi, do Partido da Liberdade (de Berlusconi) estendeu ainda mais a ameaça: “Se a política não encontra solução a Itália corre o risco de uma espécie de Guerra Civil”. Os partidos populistas e austeritários estão dispostos a pisar todos os riscos e a destruir todas as noções democráticas, a chantagear e a violentar tudo e todos quantos se oponham à sua agenda política de destruição em massa e saque, mesmo que sejam as leis dos países, tanto na Itália como em Portugal.

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