Do Dia Internacional das Mulheres ao Mayday – Continuando lutas emancipatórias

Via Mayday Lisboa 2012:

Cedo as lutas laborais fizeram parte do património de luta das mulheres. O Dia Internacional das Mulheres tem origem no Woman’s Day (Dia da Mulher) organizado pelas feministas socialistas dos EUA. Este dia, que contou com uma participação de 1500 mulheres, comemorou-se pela primeira vez a 3 de Maio de 1908, para exigir a igualdade, o direito de voto e lutar contra a opressão e exploração das mulheres. Dois anos depois, Clara Zetkin (1857-1933), na I Conferência Internacional das Mulheres (integrada no Congresso da II Internacional) realizada em Copenhaga, em 1910, propõe que se institua um Dia Internacional das Mulheres, para lutar não só pelo direito de voto para todas, como também contra os salários de miséria e as elevadas jornadas de trabalho. Pretendia-se, pois, que as mulheres se organizassem contra as terríveis injustiças sociais do sistema capitalista e lutassem pela transformação da sociedade. Nessa conferência foi aprovada uma resolução a favor do trabalho das mulheres na indústria e do princípio da igualdade salarial.

Também em Portugal, as trabalhadoras reivindicaram salários mais elevados e a redução das prolongadas jornadas de trabalho. A primeira greve só de mulheres, para exigir uma redução do horário de trabalho, foi protagonizada, em 1882, pelas costureiras de Lisboa. Anos depois, em 1911, Mariana Torres, operária conserveira, foi assassinada pela GNR, em Setúbal, durante a greve das conserveiras desta cidade que lutavam por aumentos salariais. Estes sangrentos acontecimentos em que as mulheres se encontravam na primeira linha desencadearam a primeira greve geral de Portugal e ficaram conhecidos como os “fuzilamentos de Setúbal”.

Muitas mulheres ao longo do século XX e neste início de século XXI, protagonizaram greves e lutas contra as injustiças sociais, quer durante a I República (1910-1926), quer durante o período de ditadura fascista e colonialista (1926-1974), quer após o 25 de Abril de 1974. Lembramos que foi a 8 de Março de 1975 que as mulheres portuguesas comemoraram o Dia Internacional das Mulheres, pela primeira vez, em liberdade.

No actual contexto de globalização capitalista em que o desemprego, a precariedade, as desigualdades sociais, a pobreza, o sexismo, a homofobia, a transfobia e o racismo se acentuam, os discursos e as políticas neo-liberais vêm reforçar as múltiplas discriminações. Na defesa de todas as mulheres (negras, migrantes, lésbicas, transexuais, prostitutas e/ou trabalhadoras do sexo, transfeministas) deixamos aqui alguns exemplos:

– Há duas vezes mais mulheres a receber o salário mínimo do que os homens; elas auferem uma remuneração média de cerca de 20% inferior aos homens, e, no que respeita às pensões, a desigualdade atinge 40% (dados da CGTP);

– O Rendimento Social de Inserção é maioritariamente auferido por mulheres que são também a maior percentagem de pessoas desempregadas.

– Por outro lado, continua-se a associar as mulheres (e actualmente de modo mais explícito) às funções tradicionais domésticas e do cuidar, a empregos precários e de baixos salários e sobre as mulheres migrantes e/ou negras as discriminações ainda são maiores porque associadas a diversos preconceitos e estigmatizações.

A escalada austeritária é particularmente prejudicial às mulheres, pois a redução dos serviços públicos e os cortes na educação, na saúde (incluindo a saúde sexual reprodutiva), nos subsídios de desemprego e no rendimento social de inserção, por exemplo, ou nas infra-estruturas sociais, como creches e lares de terceira idade, associados à reprodução da estereotipia de género, têm repercussões muito gravosas na vida das mulheres (actualmente, as mulheres portuguesas fazem mais 4 horas de trabalho diário não pago do que os homens).

Como nos recorda Guida Vieira, sindicalista feminista e ex-dirigente do Sindicato das Bordadeiras da Madeira e da CGTP: “A globalização impõe regras do mercado que são assustadoras, porque quer nivelar por baixo e deitar por terra tudo o que são direitos que levaram décadas a conquistar” (Vieira, Guida, Memórias de uma Missão Cumprida (2010), Lisboa, UMAR, p. 56 e 57.)

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O Mayday, enquanto movimento de precários e de precárias comprometido com a transformação social, não podia deixar de assinalar este dia. Sabemos que os efeitos da actual crise do capitalismo neoliberal não são neutros numa perspectiva de género. Sabemos também que eles incidem mais profundamente sobre as pessoas que menores recursos têm e que vivem na precariedade, reproduzindo inclusive estereótipos de género, de classe, de heterossexualidade normativa, racistas, de capacidade, entre outras dimensões igualmente opressoras.
A afirmação de alternativas ao actual paradigma é não só possível como urgente.

Junta-te a um movimento aberto que quer discutir a precariedade, mas que sobretudo quer agir e enfrentar a situação actual. Mayday 2012: juntos e juntas, seremos mais fortes!

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