Empréstimo com adoçante: Memorando com a troika prevê atribuição de Subsídio de Desemprego a trabalhadores a falsos recibos verdes

Já são conhecidas as linhas gerais do acordo entre o Governo português e a troika. Aliás, o jornal Expresso já divulgou o conteúdo do Memorando de entendimento.
Não é ainda possível saber mais do que as linhas gerais deste acordo para o empréstimo ao Estado português. Para lá duma análise mais global – que faremos em breve, após uma leitura mais completa do documento -, percebe-se rapidamente o que já sabíamos: os próximos anos serão de austeridade agravada e para as vítimas do costume. São medidas que vão impor mais cortes nas prestações sociais, a facilitação dos despedimentos e o agravamento das condições para quem é despedido, a descapitalização da Segurança Social através da redução das contribuições da responsabilidade das empresas, a privatização de empresas e serviços públicos essenciais, entre outros ferozes ataques aos trabalhadores e à população em geral.

Entre as várias intenções previstas no Memorando, há uma que diz directamente respeito às centenas milhares pessoas que trabalham a recibos verdes, ao prever a atribuição de Subsídio de Desemprego “a categorias de trabalhadores independentes que prestam os seus serviços a uma empresa de forma regular” (ver o Memorando, logo no início da página 20). A escolha das palavras é reveladora: a troika foi está bem informada e sabe que os falsos recibos verdes em Portugal são um escândalo internacional; e neste acordo fica clara a tentativa de remendar a insustentável ilegalidade que recusa o devido contrato de trabalho a centenas de milhares de trabalhadores.
Será necessário conhecer a concretização desta medida. No entanto, perante esta declaração de intenções, os Precários Inflexíveis insistem no fundamental: quem trabalha a falsos recibos verdes deve ter acesso, como está previsto na lei (apesar de ser já tão desfavorável para quem trabalha), a um contrato de trabalho. Aguardamos os detalhes da proposta para verificar quais as condições impostas para que trabalhadores a falsos recibos verdes possam vir a beneficiar de um apoio que lhes vem sendo negado há décadas. Estas centenas de milhar de pessoas estão demasiado habituadas a enganos e engodos. Eles e elas têm direito a toda a justiça social e laboral em igualdade com os outros trabalhadores, pelo que a luta pelo fim dos falsos recibos verdes não terminará com qualquer remendo do FMI ou do Governo.
 
Só o contrato de trabalho pode responder aos problemas de quem trabalha a falsos recibos verdes e assegura direitos básicos, garantindo um mínimo de protecção perante as arbitrariedades, justiça nas contribuições para a Segurança Social e no apoio em situações de dificuldade, o acesso a férias pagas e à observação de outros direitos (que, de remendo em remendo, nos vão tentando convecer que devemos prescindir e calar). 
Sabemos que este adoçante é o reconhecimento de que já não é possível esconder a realidade dos falsos recibos verdes. Mas não podemos aceitar a legitimação das formas mais precárias, ilegais e injustas de trabalho. Por isso, estamos empenhados numa proposta concreta para uma solução a sério no que diz respeito aos falsos recibos verdes: a Lei Contra a Precariedade, que continua diariamente na rua a recolher apoios e subscrições, propõe um mecanismo que agiliza a celebração de contratos de trabalho nas situações de falso trabalho indepente, protegendo o trabalhador e garantindo os devidos direitos às partes envolvidas. É este o nosso caminho, é esta a nossa resposta. Sem remendos nem enganos, num processo mobilizador que reclama uma mudança que não pode esperar mais.
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