FCT definiu quotas para a excelência antes da avaliação dos centros de investigação
De acordo com o jornal Público, a FCT definiu em Abril deste ano que cerca de metade dos 322 centros de investigação portugueses não poderia ter acesso à maior parte do financiamento de 50 milhões de euros, previsto para o horizonte de 2015 a 2020.
O contrato que a FCT estabeleceu com a ESF (European Science Foundation), a quem foi atribuída a responsabilidade de avaliar os centros de investigação e laboratórios, fixou à partida que apenas 163 instituições podiam passar à segunda fase.
E, certamente por enorme coincidência, apenas 168 instituições passaram à segunda fase.
Este é o milagre da meritocracia. Só a excelência é financiada, mas a excelência tem quotas. Além disso, há também a excelência que tem de ser ignorada (leiam-se as cartas abertas dos vários centros condenados à morte mas que são hoje uma referência nas áreas que trabalham: aqui e nos exemplos do Público: 1, 2, 3 e 4).
Portanto, o processo é absolutamente ruinoso para a ciência portuguesa, no seu todo. É como uma dança das cadeiras, através da qual Miguel Seabra decide que só deixa 163 cadeiras para os 322 centros de investigação. Não interessa se quem fica sem financiamento é bom, mau ou excelente, o importante é cumprir o critério do número de centros de investigação financiados. Resultado: a Fundação para a Ciência e Tecnologia gasta menos dinheiro em investigação e o Governo estende o seu fanatismo também a esta área, já tão massacrada com os cortes da austeridade. Tal como divulgámos anteriormente 154 unidades de investigação receberão muito pouco (entre 5 a 40 mil euros) ou nenhum financiamento da FCT nos próximos anos.
Estas unidades e os seus investigadores estarão também fora da corrida para outros financiamentos estratégicos, uma vez que a avaliação das instituições determina a possibilidade de atribuição de financiamento para bolsas ou projectos a nível nacional e internacional. Neste momento, trabalham 5187 investigadores nestas 154 unidades, ou seja, um terço do total dos investigadores vêm o seu futuro chegar a um beco sem saída.
Sobre esta catástrofe, o presidente da FCT, Miguel Seabra, responde que “isso pode ser uma consequência muito positiva”. Já sabemos, a crise é uma oportunidade, como disse Passos Coelho. Para quem nos governa, a miséria torna-nos mais criativos pois temos de inventar muito mais para conseguir sobreviver…
Por este motivo, esta é uma avaliação que não pode ser levada a sério, tal como alguns dos avaliadores da ESF anónimos revelaram nos seus relatórios de avaliação e como toda a comunidade científica tem denunciado.
A solução para evitar a ruína completa: suspender o processo de avaliação das unidades de investigação, demitir Miguel Seabra e Nuno Crato.
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