Grécia: 98,4% do dinheiro do resgate volta para a troika

Toda a gente conhece a retórica: a troika veio ajudar, resgatar, pagar salários, equilibrar as contas públicas, etc… A cassette já está gasta. Mas todos os dias se descobrem coisas novas e da Grécia chega a informação que dos 262,3 mil milhões de euros do “resgate” da troika, apenas 4,2 mil milhões (1,6%) foram de alguma maneira utilizados no Estado e na Economia. 98,4% do dinheiro do resgate da troika voltou para a troika.

crise-gregaQue o dinheiro da troika vinha resgatar a banca e os credores privados era algo que se conhecia bem. Que a principal aposta nada tinha que ver com dívida ou défice mas sim com os planos de ajustamento estrutural que destroem a sociedade também não era novidade. Mas do laboratório grego, no qual sempre podemos ver o nosso futuro de curto-prazo, chega informação bastante substancial sobre como vai funcionando o “resgate”: a troika empresta dinheiro a taxas de juro elevadíssimas e o dinheiro é injectado na banca, na finança e regressa à própria troika, depois de devidamente implementadas as alterações políticas exigidas como contrapartida dos “salvamentos”. O volume do regresso do dinheiro à troika é que é o novo dado mais relevante – apenas 1,6% do resgate não volta para a troika, entrando no orçamento de Estado ou em pequeníssimas intervenções na actividade económica. Se considerarmos que a maior parte das maturidades dos empréstimos ainda nem sequer começou a vencer na Grécia, podemos concluir algo que também já sabíamos – pagaremos muito mais à troika que aquilo que pedimos. E no entanto utilizaremos esse dinheiro para… pagar à troika.

O resgate não tem nada que ver com salários, com manter o Estado em funcionamento, a sustentabilidade das contas públicas ou qualquer outra das expressões da cassette da troika – só tem que ver com as reformas estruturais. E por isso soube-se também estes dias, confirmado pelos dados do Eurostat, que é nos países sob a troika e sob a austeridade que a dívida pública mais cresceu – Grécia, Itália, Portugal, Irlanda e Espanha. A dívida pública na Grécia subiu em um ano dos 136,5% para os 160% do PIB, um país em que a sociedade está em colapso avançado, com cortes e despedimentos massivos, destruição de todos os serviços públicos e desregulamentação de toda a economia. É de perguntar: mas então se cada vez se gasta menos dinheiro com o Estado, como é que a dívida aumenta tanto? A resposta é simples: o dinheiro vai para a banca e vai para a troika, que tanto cá como lá são os parasitas da sociedade.

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