Grécia: governo pro-troika nas cordas
Em entrevista ao jornal alemão Bild o primeiro-ministro grego eleito numa plataforma a favor da austeridade demonstrou o estado deplorável em que já se encontra, escassos meses após a eleição. Apesar de ter sido eleito com a proposta política de continuar a austeridade imposta pela troika, conclui que a democracia está em perigo, pouco antes de reunir com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, com Angela Merkel e François Hollande, que cogitam a saída da Grécia do Euro, apesar da submissão do seu governo.
Excertos da entrevista dada por Antonis Samaras ao Bild:
“Tudo o quer precisamos é de algum ‘espaço para respirar’, para reanimar a economia rapidamente e aumentar o rendimento do estado. Mais tempo não significa automaticamente mais dinheiro”.
“Deixem-me ser muito claro. Não estamos a pedir dinheiro adicional. Estamos a cumprir os nossos compromissos e todos os requisitos.”
“Precisamos de sair desta psicologia negativa, que é como um buraco negro. Os gregos votaram num novo governo para pôr o país num novo rumo.”
“Estamos a fazer progressos nas reformas estruturais e nas privatizações. E não é justo que algumas pessoas na Europa queiram continuar a empurrar-nos para dentro do buraco.”
A saída do euro “significaria pelo menos mais cinco anos de recessão e desemprego acima dos 40 por cento. Um pesadelo para a Grécia: colapso económico, tumulto social e uma crise sem precedentes da democracia”
“Que sociedade, que democracia poderia sobreviver a isto? No fim seria como a República de Weimar” referindo-se ao período de instabilidade económica que precedeu a entrada de Hitler no poder. “O dracma seria uma catástrofe para nós.”
Recentemente o governo grego aprovou bastante silenciosamente (como o Syriza havia informado) mais um corte de 11,5 mil milhões de euros em gastos públicos. Mas nem isso demove os pais tiranos da troika e especialmente da Comissão Europeia e do BCE de lá irem dizendo que, apesar de ser cara, uma saída da Grécia da zona euro seria gerível… A chantagem da austeridade coloca a faca e o queijo na mão da troika. Abdica da soberania e transfere o poder de decisão para organismos não eleitos.
É por isso que não é de estranhar que, mesmo submetendo o governo grego o seu povo à mais bárbara austeridade conhecida na Europa até agora, seja depois espezinhado pelos seus próprios mandantes. A austeridade e a troika também exportam o poder. E cada dia fica mais longe a ideia de democracia que, inventada na Grécia, parece que depois de espancada e deixada às portas da morte pela troika, terá como executores e coveiros os próprios governos nacionais da austeridade.
Entrevista original