Helena André, Ministra do Trabalho, assume que "o Estado fará a sua parte"
A ministra do Trabalho assumiu hoje que a par dos privados também o Estado tem que ter a possibilidade de recorrer a trabalho temporário, «desde que seja dentro da legalidade».
O discurso da ministra alinha pelo diapasão dos patrões, sob a ideia de que a precariedade na vida, a chantagem e o empobrecimento económico e social são a condição natural da tal nova sociedade, aquela que é a “moderna” e globalizada e que se organiza com um suposto «respeito pelos direitos de quem trabalha». Aparentemente a ministra tem uma noção corrompida sobre respeito e até sobre “dignidade”. Estes são compromissos associados ao acesso aos direitos essenciais, e não à exploração.
A realidade é um pouco mais descoberta quando, ao contrário de Vieira da Silva – ex-Ministro do Trabalho e hoje da Economia – que disse que o “estado fará a sua parte” no que se referia ao fim dos Recibos Verdes na administração pública, Helena André assume que a exploração deve estar claramente acessível ao sector Público. Passa-se da tentativa de encobrimento da precariedade no Estado, para o assumir da mesma. A perspectiva de exploração continua com uma nova versão de Ministro do Trabalho “Vale-Tudo”. No entanto, já hoje, o Estado precariza parte da sua relação laboral através da externalização da precariedade com a sub-contratação de empresas de exploradores. Vejam-se os exemplos dos programas “Novas Oportunidades” e “Actividades de Enriquecimento Curricular”.
Helena André, opta agora por defender que o ataque que esvazia o sector público de condições de trabalho é também o mesmo que mostra a cara de explorador usando para as funções públicas , profissionais contratados na sua maioria a ETTs, que agem como capatazes e chantagistas directos sobre as pessoas que trabalham. Diz a ministra: que o «Estado recorre cada vez mais ao trabalho temporário para superar falta de pessoal», através do recurso a empresas de trabalho temporário para responder «às restrições na contratação de novos funcionários e ao maior controlo dos recibos verdes». Lembre-se, no entanto, que são os sucessivos governos, nomeadamente do que faz parte, que impõem, compactuam ou fortalecem restrições como défice, o PEC e outras artimanhas que se tornaram, de dia para dia, a Bíblia de Economia ortodoxa da classe de capital e poder que cada vez mais é indivisível.
Lamenta-se que a cobardia continue a ser a forma de fazer política dos sucessivos governos, apelando à confiança das pessoas para ideias e programas que não passam de marketing (150.000 empregos, Estágios Profissionais, Choque Tecnológico, Iniciativa Emprego 2009 e 2010). Na altura certa os grandes decisores que fazem as escolhas para a maioria alinham pela via do conflito e agridem a esmagadora maioria das pessoas que vivem do seu trabalho.
Perante mais esta declaração de guerra do alto responsável pelo sector do trabalho em Portugal, os Precários Inflexíveis só podem, por coerência e convicção social e política, afirmar que tudo faremos, e todos mobilizaremos para contra-atacar. Não existimos para defender direitos mínimos ou ceder na dignidade que é essencial a um indivíduo ou a uma relação social.
Estamos e estaremos a juntar mais vozes e mais vontades para demonstrar, onde e quando for possível e necessário, que existem alternativas. Não aceitaremos que voltem a história de pernas para o ar, e que tornem esta, e as próximas gerações, em resmas de trabalhadores e trabalhadoras, estudantes ou reformados, em detritos sociais que alimentam uma suposta sociedade “moderna”, sem alternativas, mas que afinal não faz mais do que maltratar de forma hipócrita e cínica uma maioria para dar as maiores facilidades aos patrões, gestores, accionistas e outros géneros de deliquentes sociais que se instalaram nos corredores de poder.
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Subscrevo totalmente!
ps. cuidado com o “hajem” em vez do “agem” 😉