Hoje várias medidas de ataque à Segurança Social entram em vigor. Como resultado, quem tem menos viverá com menos. Quem tem vidas complicadas, as terá ainda mais complicadas. Quem sobrevive do RSI terá muito menos para sobreviver. Quem tenta viver do seu trabalho terá a Segurança Social sob saque. O gang que persegue quem menos tem convive bem com 25 pessoas detendo sensivelmente 10% do PIB nacional. Os testemunhos revelados hoje pelo público comprovam o desaparecimento progressivo da justiça e por isso da democracia em Portugal. Se na banca, finança e trabalho já é do senso comum a realidade da injustiça e impunidade dos patrões deliquentes, agora, somos também pressionados a aceitar o inaceitável em democracia, o fim da solidarieade e ataque à Segurança Social.
A reportagem de hoje no Público é em si só um conjunto de testemunhos que remetem para a categoria de mentirosos e demagogos os três homens que se vêm à direita (mais abaixo no post).
Reportagem Público: “Fátima, cabelos brancos, penteados para trás, toma a palavra. Tem 62 anos, fibromialgia, osteoporose; e um filho bipolar. Recebia 189,52 euros e o filho outros 189,52. Este mês, lá em casa, entram 322,18 euros em vez de 379,04 de RSI. É que, com a nova lei, o rapaz tem de ficar colado à mãe, já que não tem autonomia financeira e vive com ela.” … “A mulher ergue a voz: “Já devo 300 euros na mercearia. Já vendi tudo o que havia de bom em casa. Pedir emprego tenho pedido, mas quem me dá? Peço um emprego de telefonista e dizem-me que 38 anos é o limite e que é preciso carta de condução. Uma carta para telefonar?” Pior será em Janeiro. Como foi aprovado a um ano, até lá Fátima ainda receberá 89 euros por mês de apoio complementar para medicação. Depois, não o poderá renovar.“
José Sócrates e o seu Governo optam por gastar os recursos do Estado na fiscalização dos mais de 2 milhões de beneficiários da segurança social. Passam à prática a ideia máxima de que quem exerce o seu direito de solidariedade é simultaneamente um suspeito e um problema social. Quase todos estão incluídos: recebam eles rendimento social de inserção, subsídio social de desemprego ou abono de família.
Reportagem Público: Joaquina, uma mulher elegante de 37 anos, oferece-se como exemplo. Começou a trabalhar aos 15 anos em fábricas que já fecharam. “Sou beneficiária de RSI há cinco anos. Tenho vergonha. Muita gente pensa que por ser beneficiária de RSI sou malandra, mal-educada, porca.”. Faz em adulta o que a vida não lhe permitiu fazer quando era menor. Tem aproveitado para se escolarizar, para se profissionalizar. Fez um curso de técnicas de instalação de hardware que lhe deu equivalência ao 9.º ano e está a fazer um curso de instalação e reparação de redes que lhe dará equivalência ao 12.º. “Estou a lutar, mas é difícil quando me querem tirar o tapete!”
O PSD aumenta a pressão social sobre beneficiários de RSI ajudando ao festim da desconfiança e ódio social: “Não podemos ser coniventes com situações de fraude ou de duplicação de ajudas”, “Estamos a falar de pessoas que beneficiam de ajudas públicas e como tal devem ser honestas para as receberem e para que as instituições façam um trabalho sério e responsável têm de ter instrumentos para tal”. Seria bom que tivessem a mesma desenvoltura quando os patrões realizam deslocalizações e falências fraudulentas, beneficiando grandemente de apoios públicos à instalação e à contratação ou nos casos de corrupção constantemente vindos a público.
Reportagem Público: “José recebia 200 euros para pagar a habitação que ocupa com a filha de 12 anos. Já acabou o apoio complementar e da acção social nada. “A solução, da segurança social, é a rua ou o albergue.” Apesar dos seus 38 anos, não sabe ler nem escrever: está há dois anos na alfabetização. Como sobreviver com 279 euros de RSI e 43 de abono?”
Reportagem Público: “Helena, uma mulher loura, pálida, revolve-se na cadeira: “Tenho dois filhos, recebo 421 euros de RSI e pago 300 de renda. Como faço sem o apoio complementar de 250? Monto uma tenda à frente da câmara.”
Paulo Portas, do CDS-PP, ganha como sempre o prémio do ódio social: ele diz que o RSI é um “financiamento à preguiça”.“Gente que, pura e simplesmente, não quer trabalhar e quer viver a custa do contribuinte”