«Hoje recebi A carta da segurança social» | Testemunho

Recebemos este testemunho da perseguição que a Rita está a sofrer pela Seg. Social depois de ter trabalhado dezenas de anos a falsos recibos verdes, muitas vezes para o Estado, como nas AEC’s. A Seg. Social diz que a Rita tem uma dívida de mais de 2.500€, mas nunca pediu esse dinheiro aos patrões que nunca lhe fizeram um contrato de trabalho.

«Tenho 43 anos, formação superior, muitos anos de trabalho e nenhumas garantias.

Comecei cedo a trabalhar, no verão para assegurar as minhas próprias despesas e de uma forma mais sistemática desde os 23 anos.

26-RECIBOS-VERDES-02-GMM-635x340Sempre trabalhei a Recibos verdes, quer como assistente de encenção, quer dando aulas, quer coordenando projectos, a única excepção foi quando fui co-gerente da minha pequena empresa ( na área da Educação pela Arte), de cada vez que fiqei sem trabalho, ou que parei por vontade própria ( para cuidar dos meus filhos) tive direito a protecção ZERO, fiz alguns descontos para a Segurança Social, quando tive a empresa fiz todos até ser possível, depois a empresa faliu e segui em frente, mais uma vez a Recibos Verdes, apesar de ter horários e hierarquias.

Quando há dois anos fui leccionar AEC, recebendo 480 euros mensais, 10 meses por ano, sabendo que teria que pagar mais de 120 euros em transportes, a escolha era entre a Segurança Social e o bem estar dos meus filhos, não hesitei, a Segurança Social tinha enviado um mail segundo o qual a minha contribuição deveria ser de 186,13€, e isto tendo em conta que o IRS dos dois anos anteriores tinha sido comprovadamente 0€ ( os dois anos que se seguiram ao encerramento da empresa) , fiz as contas e compreendi que não me seria possível trabalhar todos os dias ( ainda que apenas algumas horas por dia) para trazer menos de 160€ para casa, já para nem falar dos 25% de IRS, era uma questão de senso comum, arrisquei pensado nos meus filhos.

Deixei de trabalhar em Julho de 2013, encerrei a actividade, estou sem trabalho e apesar de muitas diligências e tentativas, estou sem perspectivas.

Tenho 5 filhos, o mais velho entrou este ano na Faculdade e apesar de ser um bom aluno está impedido de ter acesso a Bolsa de Estudos por causa das dívidas às Finanças e SS dos Pais, mesmo estando todos no Escalão A do abono de família.

Hoje recebi A carta da segurança social, já tinha ouvido falar e agora tenho-a, de acordo com as contas feitas é-me apresentada uma dívida de 2511,13€, sei que não a posso pagar, e sei, na pele que se voltasse a ter que fazer a escolha entre a Segurança Social e os meus filhos, e atenção, não se tratava de um salário milionário, tratava-se de um trabalho a tempo parcial, para o qual eram exigidas qualificações específicas, e pelo qual me era pago um montante inferior ao salário mínimo, se voltasse a ter que escolher, escolheria os meus filhos, mesmo que a sociedade me olhe como irresponsável por ter filhos, e logo 5, (acreditei que através de um esforço persistente e das minhas capacidades me seria possível ganhar o suficiente para assegurar a dignidade existencial, pão, tecto, agasalho e estrelas) mesmo que o estado me ameace como criminosa.

Se relato na primeira pessoa esta situação não é para pedir compaixão ou piedade, é por achar que a empatia é uma característica humana única, com poderes para fazer uma comunidade reconhecer-se, indignar-se e lutar pela justiça social.
Rita Tormenta»

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