Inimigo Público nº 1: Desempregados
Num episódio longínquo da série americana “South Park”, Russel Crowe andava pelo planeta a lutar contra pessoas e contra coisas. Na impossibilidade de lutar contra o cancro, Russel Crowe contenta-se com lutar contra uma pessoa com cancro. Hoje, temos o governo a fazer o mesmo: ao invés de lutar contra o desemprego, a escolha de PSD e CDS é lutar contra as pessoas desempregadas. No dia em que se sabe que o valor médio de subsídio de desemprego pago é o mais baixo desde 2006 e que apenas metade dos desempregados inscritos no IEFP tem direito a qualquer apoio, Mota Soares anunciou com alarde que mandou os desempregados vigiar as florestas de graça.
É preciso recuar a Julho de 2006 para encontrar um valor médio de subsídio de desemprego pago tão baixo quanto em Junho de 2015: 448€/mês, menos 50€/mês do que em 2012. Tal como é referido na reportagem do Dinheiro Vivo, esta baixa dramática do subsídio de desemprego está ligada com os descontos cada vez mais fracos e inconstantes de quem trabalha de forma precária, cujos salários-base são hoje muito mais baixos do que há três anos atrás. É ainda de referir que apenas 279.564 mil pessoas recebem subsídio de desemprego, de um total de 993 mil pessoas realmente desempregadas no primeiro trimestre de 2015. O que significa que quase três quartos de todos as pessoas desempregadas não têm acesso a subsídio de desemprego.
Em Julho de 2006 taxa oficial de desemprego era de 7,7%, comparada com os 13,7% de hoje, e havia oficialmente 429 mil pessoas no desemprego, enquanto hoje oficialmente são 712 mil.
Pagar menos e a menos pessoas é aquilo que o actual governo tem feito como prioridade selectiva para a política da Segurança Social, apostando ainda no saque das pensões como objectivo próximo. Os inimigos públicos nº 1 são os mais fracos: pensionistas, desempregados, pessoas sem apoios sociais. Para ajudar no jogo da culpabilização de quem está no desemprego, continuam a surgir as iniciativas de “ocupar” os desempregados, retirando-os das estatísticas através de manobras como os contratos de emprego-inserção ou as demagógicas rondas das florestas, ao mesmo tempo que se despedem e não renovam contratos com os guardas florestais e vigilantes da natureza, cuja função laboral e remunerada era exactamente fazer esse serviço.
Os próximos tempos serão também tempos de divisão de águas, e veremos na campanha eleitoral uma luta encarniçada entre aqueles que quer combater o desemprego e aqueles que apenas querem combater as estatísticas do desemprego.