Ir e vir aos mercados

Ontem produziu-se o 2º acto de uma peça de propaganda que havia sido ensaiada em fevereiro deste ano: a ida aos mercados. Não porque não tenha de facto havido emissão de dívida pública a uma taxa de juro de 5,7% (o que, já agora, não é bom), mas porque o facto de se ter vendido dívida pública não servirá para melhorar o Estado ou as condições de vida de quem vive em Portugal, mas porque simplesmente servirá para pagar dívidas e juros, agora das mãos da troika.

draghi e gaspar

Foi mais um dia de poesia para o tecnocrata que ocupa o ministério das Finanças: depois de dizer que o processo de ajustamento em Portugal “é muito bonito”, Vítor Gaspar referiu-se ao processo de lançamento de dívida como “um sucesso”, devido também ao ‘bonito’ processo de ajustamento económico e social do país (i.e., a sua destruição). Colheu os louros de ter conseguido colocar dívida a 5,5% a 10 anos (o que significa que, caso Portugal não cresça a 5,5% nos próximos 10 anos, aumentará a sua dívida pública novamente), esquecendo-se de que há menos de uma semana Mario Draghi baixou a taxa de juro do BCE para 0,5%, a mais baixa de sempre, o que faz com que todas as taxas de juro a nível europeu tenham caído. Draghi também assegurou através do BCE o sucesso desta “ida aos mercados”, e exige como colateral a manutenção da austeridade como política selvagem e de terra queimada sobre os países. No entanto, hoje mesmo o valor da dívida colocada ontem e das dívidas de curto prazo já começou a subir, beneficiando uma vez mais os credores.

A ida aos mercados é portanto mais um processo que não tem qualquer relação com a vida de milhões de pessoas em Portugal. Apesar de mais um anúncio triunfalista, devíamos perguntar-nos: Para que serviu? Para que serve a emissão de dívida pública neste momento? Os 3 mil milhões obtidos ontem serão utilizados para que efeito? Para melhorar a protecção social? Para promover o emprego? Para criar investimento e infraestruturas úteis à sociedade e à população? Não. Este dinheiro servirá para entregar à troika, para pagar o empréstimo da troika. O rumo é destruir o Estado e, pior, vamos pagar juros de 5,7% para poder prosseguir com a destruição do país e da sociedade. Talvez seja importante não só ir aos mercados, mas principalmente saber o que vem de lá.

 

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