Opinião: Fundo Europeu de Estabilização assume que a dívida é um "ganda" negócio
Vieram hoje a público, pela voz do presidente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), Klaus Regling, as seguintes palavras: “O resgate da dívida de Portugal tem sido bom negócio” e “Até hoje houve ganhos para os alemães, porque recebemos da Irlanda e de Portugal juros acima dos refinanciamento que fizemos, e a diferença reverte a favor do orçamento alemão”. Finalmente alguém põe a nu e de uma vez desmonta toda a argumentação estúpida e preconceituosa criada para justificar a austeridade e o drama da dívida, chamando os bois pelos nomes: a dívida e a austeridade são nada mais que negócios. E grandes negócios! São uma nova categoria, em que só uma das partes vê e escreve o contrato, enquanto a outra, além de o não ver, paga tudo.
Não é possível opinar muito mais sobre estas declarações. Elas são gritantemente esclarecedoras, até para os mais convertidos ao autoritarismo austeritário. Espero apenas que muita gente tenha acesso a estas declarações e perceba, de uma vez por todas, o que está a acontecer em Portugal e na Europa. O governo que foi eleito em Portugal está do lado de quem beneficia com estes negócios. Está ideológica e financeiramente veiculado a quem faz negócio com a imposição da miséria. É o porteiro da casa que abre a porta para os ladrões entrarem para o saque.
A aceitação passiva da austeridade, do FMI, dos impostos extraordinários, das propostas de retrocesso civilizacional, como substituir a gestão pública dos hospitais pela caridadezinha das igrejas, todas são sinal de uma sociedade em ruptura total consigo mesma. Estas declarações deveriam obrigar qualquer pessoa consciente a escolher um lado. Não tomar posição é aceitar esta loucura injustificada de nos sacrificarmos pelos negócios dos outros, que têm como contrapartida a destruição da nossa sociedade e a nossa submissão individual aos delírios dos nossos governantes e dos seus patrões, os “donos do negócio da dívida”.
Marcharemos como ovelhas, ordeiramente, para o matadouro?
João Camargo






