Os ricos estão mais ricos, no país da austeridade selectiva, do desemprego e da precariedade
A revista Exame já divulgou a selecção dos mais ricos de Portugal deste ano. É uma lista conhecida, feita de grandes fortunas de acesso restrito e quase sempre familiar. Em tempos de crise, está tudo bem com o bilionários locais: o valor somado das 25 maiores fortunas subiu 17,8% no último ano. A crise não passa por aqui ou, melhor dito, “a crise é uma oportunidade”. Apesar de não ser novidade, este nível de acumulação impressiona. Os 25 mais ricos têm o equivalente a mais de 10% do PIB nacional. Só os três primeiros da lista – Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo – detêm o equivalente a 12 milhões de salários mínimos.
Américo Amorim continua a ocupar o lugar do mais rico, crescendo 18,2% face a 2010 (à custa da valorização das suas acções na Galp) e estando agora pelos 2,6 mil milhões de euros. Alexandre Soares dos Santos, dono do Pingo Doce, viu a sua fortuna quase duplicar em apenas um ano (cresceu 88,9%), com mais de 1,9 mil milhões de euros. Belmiro de Azevedo, agora em terceiro lugar, acumula 1,3 mil milhões de euros. Desta lista constam ainda as famílias Mello, a representante da família Espírito Santo, entre outros há muito conhecidos do país. Nestas coisas das fortunas, sobem os valores mas as pessoas não variam muito, porque o poder e a estabilidade são a alma do negócio.
Estes lista e estes valores revelam bem como se acumula num país em que a larga maioria passa grandes dificuldades em nome da crise. Os baixos salários, o desemprego, a precariedade, os cortes nos apoios sociais são o preço que pagamos para assegurar a estabilidade desta acumulação, que continua isenta da factura da crise e engorda de ano para ano. A austeridade é selectiva, porque não é para todos e seleciona socialmente, excluindo e emprobecendo, os mais fracos.
Basta olhar para o pódio dos milionários para ter uma imagem de como se organizam poderes e interesses no país. Américo Amorim continua a enriquecer todos os anos apenas devido à sua participação na Galp (oferecida a preço de saldo pelo Estado) e não porque produz mais cortiça ou outra coisa qualquer; Alexandre Soares dos Santos quase duplicou a sua fortuna, depois de vários anos de comprovada sobre-exploração de trabalhadores polacos (na cadeia Bierdronka) e de baixos salários e péssimas condições de trabalho nos supermercados Pingo Doce. Belmiro de Azevedo, tal como o anterior, é detentor de um império baseado sobretudo em serviços de fraca concorrência e no retalho (comprar o mais barato possível, vender o mais caro possível) com trabalhadores mal remunerados, com poucas condições e crescentemente forçados à intermediação abusiva por empresas de trabalho temporário.
Os valores revelados pela Exame relembram-nos que estamos a pagar demasiado caro alguns privilégios – e não são os dos trabalhadores, dos reformados, dos desempregados ou dos beneficiários de apoios sociais. Não há dúvida: eles é que vivem acima das nossas possibilidades.







Eles estão ricos e vocês ridículos. Depois da acção do call-center, vocês têm sido uma autêntica desilusão, pá.
Para quando acções pungentes?
Devíamos incentivar um dia ou semana de transportes públicos sem pagar, por exemplo. Toda a gente a ir e não pagar um cêntimo.
E porque não fazes tu esse protesto?