Greve Social: colectivos de precários preparam greve a 14 de Novembro em Itália

É uma questão que atormenta muita gente: como pode uma greve abranger todos os trabalhadores e trabalhadoras, quando a chantagem e a ilegalidade nas condições laborais são a regra no mundo do Trabalho tal como ele existe hoje? Como pode um trabalhador a falsos recibos verdes, como pode uma trabalhadora a part-time, perante a gigantesca ameaça do desemprego iminente e de um patronato bárbaro assumir este risco? No próximo dia 14 de Novembro, dia em que existirá uma greve geral convocada pelos sindicatos em Itália, colectivos de precários, estudantes, desempregados juntam-se para a “Greve Social”.

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Há décadas que a precariedade se instala nas sociedades europeias, e em Itália esta dimensão foi assinalada desde o início. A proposta do novo primeiro-ministro Italiano, Matteo Renzi, é um esboço daquilo que poderá ser o programa europeu para uma suposta “criação de emprego”: legalizar a precariedade ilegal e expandir os esquemas de criação de subemprego através de massivos programas de estágios (como está a ocorrer, por exemplo, em Portugal). Renzi propôs legalizar o ilegal através do chamado “Jobs Act“, que liberalizará os despedimentos sem justa causa, embora apenas para os novos trabalhadores e não para os já empregados, criando efectivamente uma divisão geracional e do tipo de trabalho, partindo o país em dois.

Movimentos sociais e colectivos de trabalhadores precários têm apostado na ideia de socializar as greves gerais de forma a conseguir que estes protestos se tornem mais visíveis, mais transversais e mais apropriáveis popularmente, razão pela qual se fala há muito da questão das greves sociais. Em Portugal, os piquetes móveis, manifestações ou piquetes de activistas e precários são também novidades recentes e um primeiro sinal do que pode ser feito para revitalizar as greves como forma de protesto sólido, colectivo e público.

A forte dedicação que os colectivos e activistas italianos têm dedicado à preparação da Greve de 14 de Novembro, com acções, reuniões descentralizadas, preparação de materiais e propaganda, leva a uma avaliação de que este processo é já um sucesso e deve ser observado com atenção em experiências futuras. A articulação com comissões de trabalhadores e sindicatos (COBAS, USI, CUB, Adl COBAS) levou à marcação de várias manifestações, bloqueios, piquetes e intervenções públicas na próxima 6ª feira, realizadas em conjunto pelas organizações, trabalhadores precários, sindicatos e movimentos. Pietro Bernocchi, do sindicato Cobas, diz ao jornal Il Manifesto que “A greve social é percurso original que junta forças sociais e políticas e até personalidades que era impossível juntarem-se há poucos anos”. O sindicalista destaca “uma nova relação entre as formas de trabalho, dos dependentes e dos autónomos, do precariado no público ao no privado”, “O século XX acabou. Hoje há um universo plural de precários, recibos verdes e formas de trabalho independente” que é difícil pôr a trabalhar em conjunto: “é muito difícil, é preciso fazer coligações de forma inédita.”

Christian Sica, activista social de Roma recorda o início do processo no “Strike Meeting”, no qual os Precários Inflexíveis estiveram presentes, “é um processo que gira à volta dos trabalhadores não organizados”, recordando que o Jobs act “não cria novo trabalho, mas prossegue a velha política italiana na qual a maior flexibilidade corresponde sempre a um maior nível de desemprego. A taxa de desemprego de 40% dos jovens é a demonstração disso”.

A greve social durará 24 horas e contará com piquetes, ocupações, acções e mobilizações de trabalhadores, estudantes, desempregados, precários em Roma, Bari, Veneza, Turim, Taranto, Pisa, Pescara, Bolonha, Perugia, Pádua, Nápoles, Milão, Génova, Florença, Chieti e Catania. A organização reuniu toda a informação neste site: http://blog.scioperosociale.it/.

Nas redes sociais o apoio à Greve Social pode ser feito através de hashtags como #iovoglio, #14n ou #scioperosociale. Desde Portugal a Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis levanta a bandeira: Precários Nos Querem – Rebeldes Nos Terão!

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